5.4.04
 
Olá, doppelgänger

(errou. tente aqui, agora)

Olá, Aitel.

E aí, como vai? Aqui quem escreve é o seu duplo-eu, seu alter ego, distante de você em cerca de 10 elevado a 10 elevado a 28 metros. Isso é isso mesmo: uma distância tão filha da puta de grande que está além das medidas astronômicas conhecidas - o que não a torna uma impossibilidade, absolutamente.

Simplesmente o que sabemos até agora é que existe um espaço infinitamente grande (ou suficientemente grande) entre eu e você, e todo ele preenchido por uma matéria desconhecida uniformemente distribuída. Por mais fantasioso que pareça, estudos sérios a respeito indicam evidências da existência de não só um, mas infinitos outros planetas habitados iguaizinhos ao meu e ao seu, onde vivem outros "Aitels" exatamente iguais no nome e nas lembranças, alguns prestes a nascer e outros que já esgotaram todas as possíveis combinações de escolhas de suas vidas. Formando uma miríade ininterrupta de eventos correlacionados entre nós – e que de forma alguma causa interferência na minha ou na sua existência. Legal, não?

Num exemplo grosseiro, funciona mais ou menos assim: eu estou aqui escrevendo isso e você aí do seu lado pode estar fazendo exatamente a mesma coisa, mas com a diferença que um dos dois talvez pare no meio do caminho – e o outro continue – sem que isso cause qualquer efeito no continuum da coisa toda. Pois bem. Provavelmente jamais nos veremos, uma vez que o lugar mais distante que podemos observar atualmente é o ponto de luz onde começou a expansão do Big Bang, 14 bilhões de anos passado adentro. Chamamos isso de Volume de Hubble, Volume de Horizonte ou, simplesmente, nosso Universo.

O que indica que estamos evoluindo nessa área específica da Física Quântica é a constatação de uma evidência cada vez mais forte de que esse nosso Universo é simplesmente uma parte de um Multiverso maior. Mas, mesmo que jamais possamos trocar um aperto de mãos, ainda existe uma chance de distinguirmos elementos do seu mundo, e vice-versa. Para isso precisaremos antes dominar a tecnologia necessária para capturar uma das extremidades de um worm hole por exemplo, que é uma espécie de atalho espaço-temporal cuja existência é igualmente aceita mas jamais vista. Foi pensando nessa possibilidade de vislumbre que resolvi listar algumas dicas relacionadas a eventos de minha/nossa vida que julguei importante ser de seu conhecimento prévio, na hipótese de você ainda não ter passado por nenhum deles:

- No dia 22.06.01, por volta das dez da manhã, tire o pé do acelerador quando o velocímetro atingir 110km/h. Isso fará com que você perceba bem a tempo a curva em cotovelo à sua frente - fazendo com que o capotamento a quase 140km/h jamais aconteça.

- Numa manhã tremendamente fria de março de 90, diga ao sargento que vocifera em suas fuças a seguinte frase: "Senhor, sim senhor." Apenas isso. E não: "Senhor, pelo que eu percebo, sargento deve ganhar muito mais", quando ele disser "Soldo? Aqui soldado só ganha isso!" mostrando o volume com as mãos. E, na hipótese disso jamais ocorrer, mesmo assim descreva o evento num blog. E retorne três anos depois para creditá-lo ao seu legítimo dono.

- Falando nisso, responda negativamente quando lhe perguntarem se você sabe bater à máquina. Não é sobre datilografia que eles estarão se referindo e isso evitará que você passe três semanas cortando a grama do pátio da infantaria.

- Numa noite fria de meados de 93, controle sua irritação e aguarde junto com seus amigos por mais 20 minutos, após ter visto o Die Haut no Ópera de Arame. Agindo assim você trocará um aperto de mãos com Nick Cave.

- Os vinis jamais serão substituídos pelos CDs, em sua totalidade. Da mesma forma que o preço desse último não irá recuar, como alardearão em seu lançamento. Portanto não passe a tratar a sua coleção como algo descartável como eu idiotamente fiz.

- Numa determinada noite de agosto de 94, num lugar chamado Dromedário, recuse polidamente o convite para tomar mais uma cerveja vindo da garota mais bonita do bar. Pode parecer estranho, mas isso praticamente limará da história grande parte do que aconteceu de desagradável nos sete anos que estão por vir a partir dali.

- Todos os ídolos de sua adolescência irão te decepcionar, inquestionavelmente. E sair por aí envergando suas respectivas camisetas não irá refrear o processo.

- Aliás, camisetas de bandas não são piéce de resisténce como você começará a achar após os 25 anos.

- Ainda no brioso Vigésimo Batalhão de Infantaria Blindada do Estado do Paraná: você tomará seu primeiro e avassalador porre alcoólico que criará um curioso dispositivo de defesa automática em seu organismo: toda vez que você vir um copo de vinho seus dedos dos pés encolherão, por puro pânico.

- Guarde bem essas palavras: "Agradeço muito sua preocupação quanto ao meu atual meio de locomoção – e posso lhe garantir que é justamente o que vou fazer tão logo sua mãe melhore das pernas". Isso vai cair como uma luva quando alguém lhe disser "vá pro diabo que o carregue". Ainda não usei.

- Guarde bem esses números: 05, 11, 31, 38, 47 e 53. Esse é o resultado do concurso 281 da Mega Sena ultra-acumulada de julho de 2001.

- Por volta do finalzinho de 86, não fique sentado em frente ao cine Astor esperando a bilheteria abrir para ser o primeiro a comprar o ingresso do filme Labirinto. Tal atitude preservará longe dos trombadinhas da Osório o Omega que você irá ganhar de seu/nosso avô alguns meses antes. Ah, e o filme não vale a pena.

- O filme que você mais assistirá em sua vida (pelo menos até meus atuais 31 anos) será O Fundo do Coração, do Coppola. Você estabelecerá uma ligação quase metafísica com ele - e tudo começará a partir de um convite feito por uma garota que no final das contas não irá aparecer no cinema. Sua obsessão por ele e pela subsequente trilha o levará a correr atrás de tudo que for possível acerca de um desgraçado chamado Tom Waits, e essa será a base para quase tudo que você verá/ouvirá durante anos. Fodeu-se, mané. Se tivesse desenvolvido um gosto por lambada ou pagode tudo seria muito mais fácil.

E o mais importante:

- Suas asas invisíveis não vão funcionar em algum dia de julho de 80. Eu tenho as cicatrizes para provar.

Abraços,

Aitel.
 

 


Faltam apenas para o seu mais espetacular acerto de contas contigo mesmo.
TRALHA ENCOSTADA NO CANTO:
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