30.8.04
 
Beggar's banquet

(errou. tente aqui, agora)

Me lembro como se tivesse realmente acontecido: imediatamente após baixar o copo na mesa, com o resto da cerveja ainda estalando na língua, meu amigo pergunta:


- Como assim, "não gosto de poesia"?

Me lembro também: suas sobrancelhas nesse momento estavam separadas por aquele amontoadinho de pele enrugada que só as grandes indignações são capazes de produzir. Diante disso, contemporizei:

- Nâo é bem isso. Acho que a expressão correta seria "não entendo poesia".

Já eram umas nove horas da noite e a profecia estava prestes a se tornar um fato. Aquela que determina que todo convite para "tomar uma cervejinha depois do expediente e botar a conversa em dia" irá se transformar num lento arrastar de ossos após os primeiros 120 minutos. Nunca falha. E as favas estavam ainda mais contadas tendo em vista que o indignado não me via há anos. E, como o amontoadinho de pele não desaparecia, emendei:

- Ou melhor: entendo sim. Mas só as "poesias de macho" do Planeta Diário. Lembra? "O que me importa se a chamam de burra?/ a gente não conversa:/ eu enfio, ela zurra". Ou aquela: "O que me importa sua cara chumbrega?/ ela fica de quatro/ eu lhe arrebento as...
- Tá, tá. Já entendi.

E ficou olhando o infinito através da prateleira de bebidas do Maneco's. Dali alguns minutos, um pouco depois do acerto da conta e já na calçada para o "pois é, precisamos nos ver mais" e o "me liga, você tem meu número", pensei em lhe dizer a verdade: sim, existem coisas do Lautreamont, Houédard, Pound, Borges e principalmente do Seiichi Niikumi que me agradam - o mesmo jamais ocorrendo com Baudelé e Rambô. Menos pelo fato de serem unanimidades (e detesto unanimidades) e mais porque aquela ladainha indulgente me irrita, mesmo. Mas, como minha intenção não era mais arrefecer coisa alguma, despedi-me e deixei-o a sós com seu desconforto.

Me lembrei disso, na verdade, depois que li a lista dos melhores filmes sci-fi de todos os tempos que o "The Guardian" divulgou - segundo consulta a 60 dos mais importantes cientistas do mundo. Mesmo porque uma grande verdade, para mim, são duas: toda poesia é um saco, salvo exceções quase inexistentes. E nenhum exemplar da melhor poesia já escrita chegará aos pés da ficção científica mais chula já desavergonhadamente impressa. Fodam-se o Grupo Noigrandes, Julio Campal, Enrique Uribe, Neruda e Ivo Vroom. Dêem-me meu K.Dick, meu Bradbury, meu Asimov e todos os escritores baratos da espécie mais rasteira de literatura. Uma transubstanciação de H.G. Wells e Fred Hoyle produziria um vinho Campo Largo, de tão bom.

Tá certo que senti falta do primeiro Jornada nas Estrelas nessa lista. Mesmo assim, meu paladar pouco refinado e muito estragado agradece.

 

 

24.8.04
 
Fala que eu te escuto

(errou. tente aqui, agora)

Aproveite a oportunidade que só esses tempos de high exposure podem oferecer: a de conhecer um pouco mais a seu próprio respeito - de uma forma, assim, mais plena. Eu, por exemplo, descobri algo bem bacana: tenho um macaco branco agarrado às minhas costas. Isso mesmo. Desses que se alimentam dos padrões químicos que determinadas sensações obrigam a pele a soltar no ambiente.

Sabe feromônio? É cientificamente comprovado que essa substância atrai o sexo oposto, da mesma forma que sabemos que alguns animais farejam o medo e que alguns outros animais ainda menos inteligentes afirmam que a luz solar lhes bastam, convocando meio mundo em convenções, palestras, reuniões condominiais e livros de auto-ajuda a deixar de lado o feijãozinho, o arrozinho, a batatinha e o pato à califórnia. Pois meu macaco vai além. Ele faz síntese protéica a partir do que há de mais abundante em nossa sociedade: o constrangimento, a vergonha e a descompostura alheia.

Lembra quando você abriu aquela porta e sem querer flagrou um casal em pleno exercício de troca de ofensas? Daquelas que revelam os detalhes mais sórdidos dos envolvidos? Naquele primeiro momento você se encolheu, pediu desculpas e retirou-se o mais rápido possível. Pois se meu macaco estivesse lá ele pediria o galheteiro. E encararia a coisa toda como o mais saboroso substrato de glicogênio.

Meu macaco é feio, gordo e assusta. Desses que se registram ao meio dia na casa de quem não tem um minuto a perder, pois o tempo urgiu e desde então já dá pra ver as tripinhas e parafuzinhos que o efeito bullet time deixa na atmosfera.

E todo esse mundo de descobertas graças unicamente a você, meu caro desconhecido. Simplesmente porque estou parado ali na fila, aguardando minha vez de abastecer meu celular e você aparece do nada, aponta para a revista que tenho nas mãos à altura dos olhos e pergunta, sorrindo: - E o Lula, hein?

E você não me conhece. Não sabe quem sou e nunca na vida me perguntou qual faixa do Boatman's Call eu odeio mais. Sendo que, de minha parte, não faço a menor questão em saber de qual cloaca infernal você foi expelido - desde que volte pra lá o quanto antes. No entanto você continua ali, sorrindo, aguardando o feedback. Esperando o "cling" do contato. Salivando de antecipação pelo "clong" da acoplagem.

E a providência existe pois, bem nessa hora, meus óculos deslizam até a ponta do meu nariz. O que me propicia duas coisas, a saber: fulminar-lhe apropriadamente por sobre as lentes e, em seguida, ajeitá-los com o auxílio do meu dedo médio - o mesmo que trago já estendido lá de baixo e que faço desfilar lentamente todo o caminho de volta, bem à sua frente. Só aí eu digo:

- Que Lula?

E então seu silêncio é o maná do meu macaco. O lento desaparecer do seu odioso sorriso é o shazam que ele precisa. O seu espinafre. O "aiô silver" nosso de cada dia. O "giz de feetal" que vale por um bifinho. E é tudo o que me ajuda a dimensionar o estardalhaço que preenche a pequena lotérica ao nosso redor e que brota da garganta do meu feio macaco branco - nesse momento sendo saciado aos limites da indecência.

Por fim, há uma outra coisa que também descubro nesse momento: meu macaco talvez seja a criatura mais afortunada do universo. Não é apenas o vitrinismo beirando a anulação individual que transborda por esses dias. Em meio a todo esse corporativismo moderno, toda essa administração "new age", toda essa busca pela excelência que transforma seguranças de estacionamento em hostess de boate - não há como meu pobre macaco passar um dia que seja sem empanturrar-se feito um frade.

Férteis e fartos campos estendem-se de horizonte a horizonte ao alcance de sua áspera e sedenta língua.

 

 

16.8.04
 
Orkutokê

(errou. tente aqui, agora)

O primero tapa-buraco é que nem o primeiro processo judicial - ninguém vai deixar que você se esqueça dele tão fácil. Portanto, esse foi escolhido a dedo: uma cançãozinha que o nosso amigo Marcio aqui enviou-me direto de seus alfarrábios e que achei assim, como direi, tudoavê aê.

The Orkut Song
(The Mighty Nifty Spatchtones)

To dowload mp3

To sing:

(Hey everybody, let's sing the Orkut song!)
You should come to Orkut now,
I promise you'll have fun, oh wow.
It's a place where people meet
to discuss the food they eat.
Or, maybe, with a little luck
they'll find someone to... have fun with.
Every boy and every girl
should be part of Orkut's world.

(Oh yeah, this is a good song.)

But I say that without fail
you'll end up in Orkut's jail.
There you won't have much to do
and they won't explain to you.
Or perhaps for special treat
your account will get delete. (Oh no!)
But before you beat your breast
this is still a beta test.

(Okay, do the Orkut Limbo now.)

So, let's make a lot of friends,
talk about Mercedes-Benz.
Rate everyone real cool and cute,
network in your birthday suit.
Orkut's great, it's real inspired,
but your session has it has expired.
Sign back in just like a squirrel, (What!?!)
welcome to the Orkut world.

Welcome to the Orkut world.

(That was great, everybody. Good song! I...hey! Everybody? Helloooo? Oh, crap, I'm in jail.)

 

 

14.8.04
 
Atualizem suas preces

(errou. tente aqui, agora)

E hoje é o dia das catástrofes impendentes. Só mesmo após uma sexta 13 que o mundo estaria preparado para o nascimento de Doktor Lemke, aquele de cujas pegadas jamais se teve notícia. (Porque ele não deixa rastros? Não. Porque ele jamais comparece onde promete estar.)

Mas hoje a coisa não será assim. Para todos aqueles que julgavam-no tão somente uma lenda, um mito, um boato, uma piada enfim, comunico que ele estará hoje, a partir das 18h no Bar do Pudim - distribuindo carinhosos sopapos e deslocamentos claviculares gratuitos. Se conseguir renovar meu seguro a tempo, prontamente lá também estarei.

 

 

13.8.04
 
Blast off uruca

(errou. tente aqui, agora)

Nas sextas-feiras 13 dos meses de agosto de sua vida, não vacile: tome logo de manhã cedinho uma talagada de conhaque de alcatrão com água benta, enfie-se dentro de uma cueca (melhor ceroula, logo duma vez) vermelho-sangue e peça pra sua mãe ferver uma mistura de chá de louro, boldo, alecrim, avezinho e espada de são jorge pra você mergulhar a cabeça dentro. Se tiver coelho na região perto de sua casa, melhor. Promova uma caçada.

Dizem que o Bruce Willis, além de ter seguido a receita acima e de ter esfregado um gato preto em cada sovaco, também encarou uma tia feia dum amigo nesse dia. O resultado é de domínio público: não foi preciso dublê nem efeitos especiais naquele filme lá, o Corpo Fechado.

Vá lá, faça o recomendado e me mande um e-mail com 06 dezenas pra apostar nesse sábado. Se vingarem, prometo que mando um e-mail de volta certificando-o como o cara mais sortudo do universo. E minha saúde financeira desde já agradece.

 

 

11.8.04
 
Primal scream

(errou. tente aqui, agora)

Sim. Durante muito tempo sofri com os resultados de certas atitudes que sempre me pareceram despropositadas, porém irresistíveis.

Coisas como curtir barulho de lambreta, cortar o ovo cozido em triângulos, guardar as terças para o resultado da loteria, encordoar os coturnos pelo avesso, entrar e sair de curvas em ponto morto, remover fiapos da roupa alheia, achar legal cheiro de diesel e torcer pelo CAP.

E também durante muito tempo me perguntei porquê. Qual o motivo dessas e outras sandices? Após muito penar finalmente achei a origem não só desses males mas, por extensão, a gênese de tudo que aconteceu de esquisito na história recente da humanidade:

Sim, sou amigo do Coalhada.

E jamais imaginei que o fato disso ter acontecido comigo pudesse ter consequências tão extensas.

Após ingressar nessa espécie de grupo de auto-ajuda orkutiano (talvez o único com alguma utilidade, afinal) descobri que não estou sozinho e que posso, finalmente, exorcizar os resultados nefandos de tamanho suplício há muito acumulado e até então ignoto.

Se em algum ponto de sua vida sua trajetória cruzou com a do referido alvo de estudos - e desse momento em diante ela jamais foi a mesma - não esquente a cabeça. Nem o Marechal Tito saiu ileso desse encontro. Vá lá, dê seu testemunho e sinta-se, assim, como se tivesse acabado de sacanear alguém. Eu recomendo.

 

 

6.8.04
 
America, you can shove your orkut

(errou. tente aqui, agora)

Impressionante.

Fiz, meio que de brincadeira, a alteração de nacionalidade que está rolando pelo orkut e adivinhem? O trubisco agora corre mais que uma barata, daquelas que entraram recentemente na adolescência e estão com toda uma semana de vida pela frente!

Bacana. Só resta saber se, agora que sou um americano de Pasárgada (Alabama), tenho direito de comprar uma arma, votar no Bush e cuidar da segurança mundial. Caso contrário, muito obrigado, fico mesmo com a versão lesma do orkut.

 

 

5.8.04
 
Romeu e Julieta

(errou. tente aqui, agora)

Confesso que não havia muita coisa que me fizesse sair correndo de casa para ver o Hellboy - salvo o fato do demônio em questão ser interpretado pelo Ron Perlman, um dos grandes do cinema.

Tá certo que é filme do Del Toro, que - apesar de não ser um grande fã - é adaptação dum personagem do Mignola (cujo traço me agrada justamente por não ser McFarlaneizado como quase tudo que é impresso hoje em dia) e que, apesar da conta bem alta no final da produção, o nome mais conhecido ali é o do John Hurt. Tudo indicando coisa boa.

E é. Por isso tudo e pelo adendo que considerei um presente especial: toca "Heartattack & Vine" quando o chifrudo aparece pela primeira vez. Me senti assim, como se jamais tivesse ouvido a frase "feitos um para o outro" com tanta exatidão.

 

 

4.8.04
 
Balzaqueando

(errou. tente aqui, agora)

Escutaram um barulho estranho hoje, como se algo tivesse sido rompido? Eis o motivo: nosso camarada Rafael aqui ultrapassou a barreira dos 30.

Ha! Cuide-se, meu amigo. A partir dessa idade qualquer machucadinho vira bichêra e qualquer esforço além do permitido traz lembranças de dias e cabelos melhores...

Portanto todos estão convidados a encher os cornos hoje, no Joker's, a partir das 19h. Pelo aniversário, pelo show do ESS e - não posso deixar de citar - pela promoção da casa que vigora até 21h: grande parte do que você pedir do cardápio vem em dobro.

Não fosse pela minha garganta - que me enche o saco desde semana passada - seria o primeiro a chegar. Mas estarei presente em espírito de porco, com certeza.

Felicidades, Rafa.

 

 


Faltam apenas para o seu mais espetacular acerto de contas contigo mesmo.
TRALHA ENCOSTADA NO CANTO:
março 2004 abril 2004 maio 2004 junho 2004 julho 2004 agosto 2004 setembro 2004 outubro 2004 novembro 2004 dezembro 2004 janeiro 2005 fevereiro 2005 março 2005 abril 2005 maio 2005 junho 2005 julho 2005 agosto 2005 setembro 2005 outubro 2005 novembro 2005 dezembro 2005 janeiro 2006 fevereiro 2006 março 2006 abril 2006 maio 2006 junho 2006 julho 2006 agosto 2006 setembro 2006 outubro 2006 novembro 2006 dezembro 2006 janeiro 2007 março 2007 


Powered by Blogger  Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com
Design by the Offman