Purple haze
(errou. tente aqui, agora)
A Motosserra de Occam foi criada com dois objetivos bem definidos:
* Algum dia, se Deus quiser, ser esculhambada pelo Diogo Mainardi.
* Tal qual Excalibur, separar a verdade da mentira, o joio do trigo, o sábado do domingo, os M&Ms verdes dos vermelhos. Até onde a liquidez financeira de seu idealizador permitir ou a elasticidade moral se romper, o que vier antes.
Enquanto aquele polemista barato me ignora, encaremos os mitos e mãos à obra:
A sincronia entre O Mágico de Oz e o álbum Dark Side of the Moon:
Tanto se falou a respeito que eu e meu camarada Júnior, na falta de algo melhor pra fazer (já tinha esquematizado de lavar o carro num outro dia) resolvemos colocar essa lenda sob a luz do dia. Afinal, isso existe? É coisa de fumeiro consumidor de Pink Floyd? Ou ambos? Pômo-nos à cata dos elementos necessários (CD, DVD, cervejas) e convidamos outras pessoas idôneas para validar o resultado final: Luciano e Ana (James), André (Vodka, Limão e Gelo) e Lilli (Didital). Após uma prévia preleção aos participantes com o intuito de coibir qualquer uso de substâncias psicotrópicas que atrapalhassem o discernimento e juízo, apertamos (ops) simultâneamente o play de áudio e vídeo:
Speak To Me/Breathe: aqui começa a encrenca. Pra você ter certeza que som e imagem estão sincronizados (a partir do terceiro rugido do leão da MGM, conforme nos foi explicado) o nome do produtor Mervyn Leroy deve aparecer na tela no momento da transição de “"Speak..." para "Breathe". Mas que diabo de transição é essa? O counter do seu aparelho de áudio não vai dar sinal nenhum de mudança, portanto preste atenção quando começar um sintetizador mais acelerado. Esse é o ponto. Feito o ajuste, é aguardar a primeira coincidência surgir: Dorothy sobe numa cerca e tenta se equilibrar ao som do verso "balanced on the biggest wave". Quando ela cai a música termina.
On The Run começa quando os três trabalhadores (mais tarde o Leão, Homem de Lata e Espantalho) retiram Dorothy do emaranhado de arame justamente quando Tia Em aparece para dar uma bronca em todo mundo. Nesse ponto há um trecho da música onde uma voz feminina ao fundo casa com os movimentos labiais da atriz. Em seguida, a tão propalada seqüência em que Dorothy canta "Over The Rainbow" observando os aviões imaginários da canção não impressiona tanto assim. O bacana mesmo é quando surgem os repiques e sinos do trecho final no instante em que a velha avarenta aparece em sua bicicleta – e que acabam quando ela estaciona em frente à casa. Aí dá-se início aos dois melhores momentos da história toda:
Time: dentro da casa Dorothy, tios e a velha discutem o destino de Totó. A câmera faz um travelling bem lento sala adentro enquanto Dorothy volta-se para cada um dos atores a cada crescendo da música. O efeito de tensão fica mais evidente e vai pontuando toda a seqüência até o encontro dela com o mágico que prevê o futuro na bola de cristal. Ele diz a ela para voltar para casa no instante em que o verso "home, home again" é cantado.
Great Gig In The Sky: indiscutivelmente, a melhor parte. É quando o tornado se avizinha da fazenda e seu início lento dá todo o clima de catástrofe eminente. Das portas arrancadas pelo vento à pancada que Dorothy leva na cabeça, passando pelo desfile de personagens pela janela da casa voadora, tudo se encaixa à perfeição. Quando Dorothy desfalece a música serena aos poucos, até cessar por completo quando a casa pousa em Oz.
Money: começa depois que Dorothy acorda, abre a porta (fazendo a passagem do P/B para o colorido do filme) e exatamente quando ela pisa na estrada de tijolos amarelos. A música continua dando o clima até o surgimento dos primeiros habitantes da Cidade dos Munchkins.
Us And Them: a partir desse ponto as coisas vão ficando um pouco subjetivas demais. Justamente porque daqui pra frente o filme é quase todo musical (com números longos de dança) o que acaba propiciando "analogias" com qualquer coisa remotamente parecida com música - o que dizer então do tom predominante "atmosférico" do Pink Floyd? Mas ainda há algumas curiosidades: a Bruxa do Leste aparece (toda de preto) ao som do verso "black, black" e desaparece em "out, out". O verso "and who knows which is which and who is who" surge quando a bruxa boa explica a existência de duas bruxas más e por aí vai. A coisa toda fica nisso até Any Colour You Like e além, quando Dorothy encontra o Espantalho. O que mais chama a atenção são as passagens e fades de cenas. Quase todas acompanham as músicas.
Brain Damage: faz parte da seqüência que ficou mais famosa pelo "espírito da coisa" do que por qualquer sincronia imputada: o Espantalho quer um cérebro (alusão ao título) e na música há uma risada demente que reforça o efeito do verso "the lunatic is on the grass" cantado quando ele cai no chão toda vez que tenta dançar. Ao lado da seqüência do tornado, é a mais lembrada pelos malucos em geral e defensores da tal "coincidência cósmica" envolvendo o disco e o filme.
Eclipse tem apenas 2:04, portanto fique esperto para dar pause no filme. Você vai ter que reiniciar o CD logo na seqüência. Aqui o que mais encantou as moças participantes do evento foi o som dos batimentos cardíacos no final da música, quando Dorothy bate no peito do Homem de Lata. Veja você. Pois bem, ao se reiniciar o CD (e destramelar o filme ao som de "Speak to Me/Breathe" de novo) preste atenção quando o Homem de Lata, já devidamente desenferrujado, balançar de um lado para o outro acompanhando um ruído específico de guitarra. É bem legal. E, pessoalmente, acredito que as coincidências acabam aqui. Pelo menos até o inacreditável final quando Dorothy abre os olhos (já de volta à fazenda) no instante exato do maldito verso "home, home again" novamente, momento esse especialmente lembrado pelos participantes pois foi aí que um ataque cardíaco coletivo quase nos varreu da face da terra.
Se você digitar "Wizard of Oz/Dark Side of the Moon" na barra de procura do seu navegador é bem provável que apareçam mais de 12 mil páginas sobre o assunto. A experiência aqui foi feita com base nas indicações do menos alucinado deles. Há iluminados que tiveram a pachorra de estabelecer parâmetros em datas específicas da produção do disco e do filme, combinando mapas astrais e o caralho. Outros ouviram mensagens de ovnis na mistura de áudio dos dois. Quanto a mim, duas coisas ficaram fortemente reforçadas: 1: acredito que, durante a finalização do álbum, alguém tenha percebido a "coincidência cósmica", mas numa escala bem menor: uma ou outra cena casando, talvez nem mesmo seqüências completas. E que, a partir disso, a banda tenha dado uma mãozinha no encaixe – principalmente na duração e inclusão de efeitos sonoros que aludem ao que aparece na tela.
E 2: faziam uns quatorze anos que não escutava esse disco. Posso perfeitamente ficar mais uns trinta a partir de agora.