Deixa pra quem entende do riscado
(errou. tente aqui, agora)
É bem provável que a série Miami Vice tenha sido responsável pela minha primeira sensação outsider: a de torcer pelo vilão ao final de cada episódio.
Não só porque quem representava o lado do "bem" era o Don Johnson (que merecia mesmo tomar umas porradas pelo vestuário que usava) mas também porque (à parte o padrão de vida inexplicável que os protagonistas levavam para quem trabalhava somente como investigador policial) havia nisso uma "importação" da nossa realidade que até então, para mim, era inédita numa série de TV.
Hoje isso pode parecer uma besteira para vocês, jovens fãs do Riddick, mas calculem o que representava para um adolescente em meio a todo aquele Esquadrão Classe A e Automan da época. Da maneira com que um indivíduo era mostrado sob efeito de cocaína à cara do Edward James Olmos, tudo parecia dizer: "Achou bacana, pirralho? Aguarde o próximo tiroteio."
Por isso, ontem, fui ao cinema pagar parte do meu débito com Michael Mann. Collateral é previsível sim, mas pelo lado bom da coisa. E isso, pelo que me foi apresentado na tela, muda de nome. Ganha aquela denominação que raramente empregamos quando nos chega o resultado de algo que solicitamos: vira "serviço bem feito". Previsível para mim, que já esperava o jeito como ele faz com que uma trilha sonora trabalhe totalmente a seu favor. Até mesmo quando o que se ouve da tela é a porra do Audioslave.
Sou capaz de afirmar que ele é o único que possui uma "assinatura visual" que, atualmente, não torra o saco e que não envelheceu - a exemplo de, infelizmente, Julien Temple. "Ah, mas parece coisa de neguinho com formação publicitária...", "todo mundo faz isso hoje em dia..." alto lá, caterva. O neguinho aqui em questão fez a aula inaugural do boteco onde essa gente toda recém vomitou-se. E qualquer um que tenha colocado uma vírgula que seja num rascunho do Starsky e Hutch já valeria mais do que vinte Tony Scotts.
Sabe aquele mecânico amigo da família há anos, que nunca pisou na bola e que consertou a toque de caixa aquele teu Puma pra viagem do final de semana, naquele distante 85? Pois aquele caboclo em cujas mãos você depositou toda sua confiança naquele dia é o meu correlato do sr. Michael Mann.