É primavera
(errou. tente aqui, agora)
Reconheço o que devo ao sr. Cacá: a oportunidade de ter ouvido o microdiálogo que transcrevo abaixo.
Para quem não sabe (ou não se lembra, ou gostaria de esquecer) o sujeito foi proprietário da hoje extinta loja de discos Música Viva (aquela que ficava nas entranhas da galeria Júlio Moreira) e que - junto com a 801 Discos e a Savarin - evangelizou boa parte desses trintões que infestam os James da vida hoje em dia.
Era hábito ficar perambulando por ali remexendo no acervo e irritando os atendentes ocasionais com pedidos de música. Me lembro também que, nesse dia em questão, a matilha era formada por mim, Claudião e mais uns dois que se ocupavam naquele momento em tirar sarro um do outro, dos que passavam pelo lado de fora da loja e outras atividades tão caras a sujeitos tão nobres.
Quando - para o silêncio geral do ambiente - entra um estudante com cara de imbecil, olha em volta meio perdido e pergunta a Satã em pessoa:
- Cara, você tem aí alguma coisa assim... tipo... tipo quando o cara toca pra caralho... tipo como se ele fizesse a guitarra falar?
Olhei para o lado no exato instante em que o Claudião se atirava porta afora para poder gargalhar, tipo assim, com mais comodidade. O Cacá então, do alto de sua monumental e famosa compreensão, responde:
- Não. Não trabalhamos com adestrador de instumentos.
O garoto fica um pouco em silêncio. Olha pra barba do Cacá e, insatisfeito, volta à carga:
- Nada assim... como se o cara entrasse na música?
Aí o Cacá olha (pela primeira vez) para o garoto, suspira e se supera:
- Não, cara. A gente também não trabalha com putaria.