Serviço Motosserra de Considerações Tardias - prot. 01/2004
(errou. tente aqui, agora)
É do meu interesse assistir Exorcist - The Beginning tão logo sua estréia aconteça. Porém, antes, encuquei que devo ver o primeiro de novo - motivo esse que há semanas me faz rondar sua cópia na minha videolocadora habitual. Pego, não pego. Seguro a caixinha, reexamino pela milésima vez o rótulo com a arte fantástica do cartaz original... e reponho-a no lugar, saindo com outro título qualquer dentro da sacolinha.
Tenho essa relação com meus filmes preferidos. Receio da decepção. Afinal, penso que nada - absolutamente nada - me trará o terror inicial de ter visto esse filme pela sua primeira e maravilhosa vez, no cinema (já em reprise, obviamente) por volta dos meus 16 anos. Somente O Iluminado chegou perto. Mas aí minha folha corrida já era motivo suficiente para outras preocupações mais terrenas.
Pois bem. Não precisei gastar meus 3,50 afinal, graças ao seu Sílvio. Revi o dito sexta passada, em TV aberta e dubladão. E gostaria de pedir satisfações pessoais ao fulano que ardilosamente, ao longo de todos esses anos, espalhou as características abaixo num dos meus filmes de terror prediletos. O que antes resumia-se a um único "MANHÊÊÊÊ!!!" esfacelou-se assim:
* Culpa, culpa, culpa. Da mãe ateísta divorciada ao padre quase edipiano (e sua fé recém-perdida) e da resistência emocional reduzida por ela à sua remissão através do sacrifício extremo - o filme talvez seja o maior tratado já feito sobre esse privadíssimo sentimento humano.
* À sua época (1973) alguns signos hoje considerados politicamente incorretos funcionaram que uma beleza: a proximidade entre conceitos de "arte" e "heresia" (sequência da festa) e o embate "ciência x religião", onde uma junta de 88 médicos decide que o exorcismo poderia - como suGestão* psicológica - atingir resultados mais satisfatórios.
* Mais do que o choque causado ao mostrar uma garota de 12 anos ferindo o rosto e a vagina com um crucifixo, é interessante como - indiretamente - o maior tabu quebrado fica por conta do descrédito atribuído aos homens-instituições de maior prestígio daquele tempo: padres e médicos. Tanto um grupo quanto o outro mostram-se igualmente incompetentes em peitar o chifrudo.
* Ainda no "razão x emoção": note que toda vez que a menina Regan é mostrada dentro do hospital, tudo tenta parecer ainda mais assustador que a perspectiva da possessão. Máquinas gigantescas e barulhentas, punções dolorosas, rostos frios e o insuperável ar de "isso não está certo" dos médicos.
Resumidamente, o chover no molhado ficou nisso. Sem esquecer que, claro, o objetivo inicial do post era lhes convocar a assistir outro filme com final igualmente corajoso e insuspeito: Mar Aberto. Mas desse eu falo novamente daqui a vinte anos. E só se passar no SBT.
(* não tem outra coisa melhor que ficar corrigindo os outros não, Lemke dos sete infernos? tá feliz agora, maldito?)