Salvo, afinal
(errou. tente aqui, agora)
Imagine-se, meu caro, numa determinada idade da vida em que você resolve iniciar um longo e prestimoso período de bons serviços à sociedade, balanceando o nível de karma e colesterol, criando conforto para receber conforto, desesperadamente tentando limpar as máculas do que só seu coração sabe e sente.
Você faz um acordo tácito com sua consciência, porque você lê num livro de auto-ajuda que o segredo de um além-túmulo feliz é bater as botas com ela em dia e limpa. O que demanda um puta esforço, é bem verdade, mas que afasta a idéia de um inferno todo próprio ejetado a partir do que compõe suas células cerebrais. O segredo, pensa você, é acreditar que você não merece isso.
Imagine-se, meu caro, numa determinada idade da vida em que você finalmente deixa o mundo 21 gramas mais leve.
Sua família, ou quem quer que tenha em mãos a responsabilidade pelo seu passamento, foi a única coisa em que você esqueceu de deitar um olho mais acurado - e você não sabe dizer exatamente em que momento de sua corrida pelo bem-estar mundial isso acabou acontecendo.
Mas o fato é que você agora está ali, inerte, desaparecendo e se transformando num incômodo que precisa - a despeito de toda a santidade alcançada - ser removido.
Então, veja você, sua família tem a brilhante idéia de erguer uma última homenagem à altura de seus feitos mais recentes - e enterrar seus restos NUMA CAIXA DE PERFUMES DO BOTICÁRIO.
Imagine-se, meu caro, num determinado momento do pós-vida em que você alcança o outro lado do Aqueronte a bordo de um troço desses.
Prefiro ficar insepulto.