Seu desejo também é um incômodo, Eve.
(errou. tente aqui, agora)
Pra ser bem sincero não tenho ninguém que tenha desistido assim, definitivamente, na literatura. Tenho os que não deveria ter começado a ler tão cedo.
Graham Greene e William Golding, por exemplo, não me trouxeram nada de útil entre os 16 e 22 anos. Quero dizer, se você levar em conta o que diz meu otorrino. Eu achei sensacional: Greene me apresentou o bourbon e Golding a nicotina.
Inauguraram meu período mesozóico na bandalheira e anteciparam possibilidades. Me fizeram ganhar léguas atrás da cenoura amarrada no barbante e destruíram meu Puma GT. Nessa fase, queimar etapas só pode ser da melhor forma possível: pelo jeito mais insalubre.
E evocando um perfume que o entorno, hoje, não projeta mais, me fizeram atropelar toda uma geração que sequer chegaram a fazer parte: os beatniks foram consumidos de tal forma que cheguei a pensar em proibir um filho ocasional de lê-los antes do tempo. Antes de, você sabe, chegar naquele ponto da vida em que um palavrão já não o faz soar tão falso.
Honestamente não tenho ninguém que tenha abandonado assim, definitivamente, na literatura. Na verdade estou erguendo uma pilha de livros para cada um deles e, numa visão bem otimista, daqui mais 30 anos acho que fecho o círculo. Minha biblioteca na forma de um Stonehenge pessoal.
Tudo é uma questão de perspectiva: conforme a posição da luz do sol por sobre o menir onde está o Papermen, por exemplo, num futuro desses teremos um sentido completamente novo para a obra. Um novo sentido para o termo "releitura", dois livros pelo preço de um e um outono ao preço de seus desejos.
Isto é: se o Apophis não resolver aparecer antes, claro.