Vai anotando aí:
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O que mais quero dessa vida, nesse momento, após voltar de SP:
- Fantômas: toque no Guairinha, no Centro Cultural Portão ou no TUC. Em qualquer lugar que acomode menos de 1.500 pessoas e que não tenha ninguém por perto perguntando quem é o Mike "Pattone".
- Flaming Lips: nunca mais, em hipótese alguma, leve a sério esse negócio de cumprir o protocolo e não esticar o show um segundo que seja além dos 40 minutos regulamentados. O que eu vi ontem merece umas duas horas, no mínimo. E dois Kleenex(*).
- Iggy Pop: afinal, basicamente, do que é composta sua alimentação diária? Outra coisa: se ocorrer outro "liberou geral" e neguinho puder subir livremente no palco num show desses onde eu esteja pisando o mesmo solo, prometo arriscar algumas costelas e permanecer a menos de sete metros de v.sa.
- Sonic Youth: meus caríssimos... vocês ficaram devendo. Não fossem os 14 anos de crédito que possuem junto a minha agradável pessoa... CERASA na hora. Sem pensar duas vezes. Como seu passado conta - e muito - aguardaremos uma outra oportunidade onde, espero, vocês mostrem um pouco mais de disposição. Enquanto isso a conta fica ali, pendurada no caderninho.
- NIN: sabe trilha de filmes? De games? Pois é. Durante um tempo achei que isso seria a única coisa (ainda que maizomenos) a ser criada por vocês até o inevitável ocaso de uma outrora banda genial. Mas eis que surge o With Teeth. E dele uma maravilha chamada The Hand That Feeds... e na esteira disso uma turnê irretocável. É claro que foi só uma questão de tempo até eu engolir todas as vírgulas que já havia dito a respeito de seu futuro e sua música. Mas se for pra tomar esse remédio da forma tão sublime quanto foi ontem, esqueçam todo esse meu mea culpa e voltem aqui pra me mostrar o contrário - quantas vezes for necessário.
- E, claro: pela hospitalidade, gentileza e presença agradabilíssima, Fábio e Sarah: vocês estão intimados a comparecer em CWB para me cobrar a diária.
(*) e, pra não perder o costume: clique no botão verde.
Pestiô o lagarto
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Ok.
Desequilibrados em geral que me conhecem, me aguardam e sabem de minhas intenções com relação a esse final de semana em SP:
Saio daqui às 10h.
FANTÔM
ASFLAMING
LIPSIGGYPOPSO
NICYOU
THNINEIN
CHNAILS!!!
Que Tom Waits se apiede de nossas almas.
(E segue o baile, sanfoneiro dos sete infernos!)
"I spent a lot of my money on booze, birds and fast cars - the rest I just squandered."
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Para aqueles que gostam de excelente futebol e música idem, essa capa se transformará num ícone ainda maior em menos de 24 horas.
Aperte o play, arranje uma Guiness e encha os cornos em homenagem ao grande George Best.
Entendendo a natureza: o ser humano e seu ambiente
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É, meu amigo.
Eu sei o que te aborrece. Tô sabendo das tuas preocupações acerca da caca mundial, daquilo que você teme despencar sobre teu latifúndio e de todo aquele resto um pouco mais circunvizinho ao seu umbigo.
* Sei do pânico que você alimentou, educou e desenvolveu a cada vez que viu teu chefe aparecer em dias alternados com duas amantes - uma chamada "tenho numa opinião divergente" e outra "você sabe, o prazo é pra anteontem".
* Do fato que você SABE que mais de 1.200 títulos de auto-ajuda são lançados por ano.
(É, eu sei. Assustador.)
* Mas o pior é que sei que você igualmente sabe o quanto disso resulta em PALESTRA MOTIVACIONAL mundinho corporativo afora.
(- sabe o que eu penso daqueles que desprezam auto-ajuda?
- não.
- penso que desenvolveram auto-suficiência.)
* Sei também da tua dúvida se o nosso amado Trétis vai conseguir perder pra rebaixar o Coxa pra segundona.
* Da tua paúra quanto ao terceiro mês seguido de redução de vendas no comércio em geral.
* E - das pedras de Marte às rugas do meu saco - o universo inteiro SABE o quanto você teme pela sorte mundial agora que o Irã está prestes a ser nuclearizado.
Mas sossegue.
Tudo isso é bobagem.
Se há algo que realmente valha algum tipo de atenção de sua parte, que mereça um pouco mais das horas que você dedica a todo o resto...
É isso aqui.
E não precisa me agradecer. No fundo, a despeito de todo meu caráter "just push de button and BLAST all the bloody stuff"...
Eu sabia que você sabia.
MY KARMA BANK IS OVERFLOWING!!!
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AAAAAÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊ!!!
Anemic Rock e outras urucas FUCK OFF!!!
Esse meu jeito doce de tratar minha velharia sentimental
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De tempos em tempos a web me surpreende e aquece essa cebola que tenho no lugar do coração. Trocando figurinhas através de um fórum específico (ié! i'm a raindog now!) com esse fulano aqui, descubro que um bando de iluminados resolveu transformar o YouTube em algo decente e prestável, recheando seus arquivos com streamings de Tom Waits.
Tem muita coisa já conhecida, mas também entrevistas raras e trechos do Fishing With John, talk-shows e outras obscuridades.
Cliquem lá, minha gente.
Já marejei meus olhos suficientemente por um dia.
"It is not the kind of album a 25-year-old band is supposed to make."
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Quinta-feira. 27 de outubro de 2005. Por volta das 23h30:
Depois de algum custo, consigo respirar em meio ao abraço vitaminado por seis anos de desaparecimento de um antigo camarada. Seu nome é Resende e ele está bestamente bêbado:
- Cara! Não acredito que te encontrei aqui! Filho da puta! No show do Napalm Death!
E tome abraço. O desgraçado é forte. Tenho 1,82 de altura, 80 quilos e estou suspenso a vinte centímetros do chão. Tento apoiar meu pé de um jeito que a eventualidade de um tombo não me quebre mais que duas ou três costelas.
- Saudades também, seu corno! - consigo dizer enquanto mapeio mentalmente minhas costas em busca de sinais vitais do baço e rins. Encontro os rins.
Ele me solta no chão e bota as mãos em meus ombros. Sinto como se dois cachos de bananas tivessem pousado em cada lado da minha cabeça. Ele então sorri e diz:
- Vou mijar. Guentaí que já volto. Cara! Não acredito que você tá aqui, seu bosta!
E some em meio ao povo.
Enquanto massageio minha lombar da melhor forma que o braço consegue alcançar, meu amigo Theo surge pela esquerda e segreda:
- Você já ouviu o último do Depeche Mode?
Olho pra ele e por um instante esqueço a dor. Peraí, raciocino. Estamos prestes a presenciar a mais ignorante experiência sonora que nos foi permitida esse ano. Tanto que se eu pudesse lhe diria: você está prestes a testemunhar um verdadeiro milagre envolvendo seus óculos e um stage dive kamikaze. Que papo é esse de Depeche Mode?
- É sério. - responde ele, lendo meu pensamento - Escute. Vale muito a pena.
Cerca de quarenta minutos depois já não pertencemos mais a esse mundo. O Napalm sobe ao palco e simplesmente PULVERIZA tudo aquilo que acreditávamos até então como parâmetro de brutalidade. É um dilúvio balsâmico e purificador. O mais perto de uma catarse que já ousei chegar sem medo de perder a entradinha do retorno. É magnífico.
Após o show, suado e feliz, estou dirigindo de volta pra casa quando páro em um semáforo e a nota mental bate à porta: ouvir o último do Depeche.
E é o que faço, quase uma semana e meia após o alerta. E sou obrigado a concordar aqui, também com o delay que é todo próprio de minha agradável e procrastinante pessoa: escutem essa maravilha. E sejam felizes, seus putinhos.
Sleepwalk mode
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Hoje completo exatos dois meses em endereço novo: uma espécie de condomínio fechado cujas fachadas das casas são voltadas para o centro de um pátio pavimentado. Meu vizinho da esquerda possui ambos os músculos temporais (aqueles, logo acima das orelhas) tão destacados quanto os meus. Jamais tinha visto meu vizinho antes. Não fossem os temporais, teria logo de cara antipatizado com os olhos verdes, característica essa que me dá o direito de classificar quem os possui como - salvo exceções - indivíduo de pouca confiabilidade.
- 'dia! - me diz ele, enquanto embarca em seu carro.
- 'dia. - respondo, fazendo o mesmo e com igual sorriso.
Do pátio pavimentado que serve como área comum e coberta aos carros, saem cinco calçadas em aclive até o nível da rua - em cinco direções diferentes. Ambos engatamos a ré e iniciamos o afastamento triangular quando ele coloca a cabeça pela janela e pergunta:
- vai voltar de madrugada, de novo?
Eu páro, ele também. Dois motores VW em ponto morto emolduram meu espanto.
- como? - pergunto.
Ele sorri:
- perguntei se vai voltar de madrugada de novo. é o seguinte: hoje vem aquele pessoal pra pintar a calçada, se não chover. eles vão começar pela tua. daí você pode entrar pela guarita da rua de baixo e deixar o carro na minha garagem. se voltar cedo, é só buzinar. se for tarde que nem ontem vou te dar o meu controle do portão.
Vejo os temporais dele arquearem ainda mais enquanto estende o sorriso. Ele vê os meus desaparecem.
- beleza. só acho que você se enganou. ontem eu voltei um pouco antes das onze da noite. - digo, sorrindo apenas com o lado do rosto que ele pode ver.
Ele me olha um instante.
- hehe. desculpaê. devo ter confundido os barulhos dos alarmes. o do teu carro é uniloop também, né?
- é.
- igual ao meu. mesmo barulhinho que ouvi hoje lá pelas cinco e meia. engraçado que ninguém mais tem, aqui... mas beleza: pega aí a cópia do meu controle. - e arremessa o aparelhinho em minha direção.
Enquanto o observo desaparecer calçada acima ativo o rewind no meu cérebro. Não. Não cheguei em casa lá pelas cinco e meia - tenho absoluta convicção disso. E sim, ele tem razão. Somente nossos carros têm o mesmo alarme. Já ouvi todos os outros.
Meia hora depois estou dentro de um consultório na Rep. Argentina, deitado em uma maca e com um ortopedista apalpando minha perna esquerda logo abaixo do joelho.
- dói?
- pra caralho.
Ele volta pra sua mesa e me faz sinal pra segui-lo. Calço os sapatos, sento à sua frente e pergunto:
- qual o nome desse músculo aqui? - aponto para o meu temporal.
- temporal.
- ahh... beleza. só checando.
Ele abre uma gaveta e dá o diagnóstico:
- o que aconteceu na tua perna foi um estiramento. não chegou a romper nada importante mas arrebentou com um milhão de fibras. vai precisar de repouso, compressa e antiinflamatório - decreta enquanto apanha o receituário. Rabiscando, pergunta: - como foi mesmo que você lesionou?
- fazendo a dança do marinheiro popeye.
Ele me encara. Continuo:
- lembra da dança do marinheiro popeye? nos desenhos? ele pulava duas vezes em cada perna enquanto dobrava os braços alternadamente na frente e atrás do corpo. aí seguia em frente dançando.
- e você tentou fazer isso.
- sou um mestre nisso. sou conhecido internacionalmente como o cara que melhor dança a dança do marinheiro popeye. mas esqueci de fazer o aquecimento básico nessa oportunidade. e o coturno do pé esquerdo tava meio apertado.
- e quando foi?
- madrugada desse domingo pra segunda. aqui mesmo, nessa rua. eu e mais dois camaradas encostamos o carro em frente ao angeloni, ligamos o tom waits e fizemos uma roda de polka na canaleta do expresso.
Ele continua me olhando do mesmo jeito.
- pra você ver como são as coisas - finalizo. - meia dúzia de long necks e o fulano esquece de uma coisa tão básica como fazer um alongamento antes da dança do marinheiro popeye.
Uma hora depois estou sentado em minha cama com a sacola de remédios ao lado. Faço um rápido inventário das lembranças dos últimos dias e separo as mais relevantes:
* por mais que chegue em casa em horário hábil pra isso, não tenho tido um sono merecedor desse nome há meses.
* meu carro passou a consumir o dobro de combustível, apesar do trajeto diário permanecer essencialmente o mesmo.
* tenho flashes de coisas que realmente não lembro de ter presenciado.
* de uma hora pra outra não consigo mais achar nada que tenha anotado, seja lá onde for.
* números estranhos começaram a aparecer no meu celular como chamadas não atendidas.
* meu vizinho jura que me ouviu chegando em casa quase seis horas depois do que acredito ter realmente chegado.
Matuto mais um pouquinho e então finalmente a ficha cai.
Levanto da cama e faço a lista:
- quero aprender klingon.
- tocar piano.
- ouvir essa música, ao vivo.
- finalizar meu cubo mágico.
E a publico aqui, nesse blog, para que eu mesmo possa lê-la mais tarde. Pois, afinal, se agora virei um sonâmbulo com capacidades tão independentes quanto dar uma volta sozinho de carro, à noite, quero que esse lazarento realmente se esforce para que eu possa aproveitar o máximo dessa condição.