Uma noite no zoológico
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Saiu mais um resultado da minha pesquisa "Ninguém Te Perguntou Coisa Alguma, Porra" que semanalmente faço aqui com meus queridos botões - desta feita sobre duas estréias bastante incensadas nesse nosso mundinho filmográfico, a saber: o (1) Fahrenheit 11 de Setembro e o (2) Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças:
(1.a) Fatos: Michael Moore é um caboclo muito do tendencioso, mesmo. E melodramático até onde pode sem o menor pudor disso. Mas, é claro, quando o alvo é o Bush a gente concorda em fazer vista grossa até para aquela apelação de botar uma mãe quase desmoronando - em frente à Casa Branca - chorando pela morte do filho em combate no Iraque.
(1.b) Pergunta: alguém notou a espantosa semelhança da sequência em que soldados americanos relatam suas impressões sobre a guerra com um trecho do "Nascido Para Matar" do Kubrick? Coincidência cósmica? Apropriação indébita?
(2.a) Fatos: um sujeito que faz com que um efeito criado em computador pareça algo feito sem o auxílio de efeito algum (e vice-versa) por si só já teria todo meu respeito. Mas há mais: a luz, cambada, a luz! A iluminação do Michel Gondry é uma das coisas mais bacanas do cinema nesses últimos cinco anos. Faz com que você veja com outros olhos aquelas cenas que seu tio tosco gravou da sua família dentro daquela casa, naquela praia, naquele final de semana chuvoso. Resultados lógicos pelos caminhos mais inusitados. É o mais perto que um filme já esteve de um origami.
(2.b) Pergunta: será possível que ninguém vai fazer alguma coisa com relação às pobres e histéricas viúvas do Ace Ventura? Já está dando no saco: a cada vez que o Jim Carrey tenta ser menos paspalho num filme, está lá a horda de imbecis atraída pelo "ei, é o cara do Máskara!" ou "nossa, é o sujeito que fez o Charada naquele filme lá do Capitão América!". E aí, como a escumalha obviamente não será satisfeita em sua fome de micagens, caretas e etc., somos obrigados a aguentar os barulhinhos da revolta: cochichos, tossidinhas, risadinhas, comentários, pacotinhos de bala sendo remexidos e demais sons que certamente compõem a trilha sonora de uma vida repleta de prazeres para cada um desses malditos babuínos. Brennen, blöd, brennen!
Weird-o-matic for the people
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No bufê do refeitório onde diariamente dou o ar do meu desconforto, você encontra:
* Peito de frango grelhado com molho cheddar.
* Sanduíche natural com recheio de maionese.
* Arroz integral acompanhando feijoada completa.
* Diversos doces com a inscrição "baixa caloria" revestidos de creme de leite e côco.
Qualquer dia desses vou embolachar os cornos do catador de papel na esquina e entrar no dito cujo me dirigindo direto pra mocinha do caixa:
- Posso te fazer uma pergunta?
- Claro, sr.
- A que horas o Super-Homem Bizarro almoça aqui?
E deixar na caixinha de sugestões: trocar o ramo do estabelecimento. Restaurante é o caralho, meu nome agora é Terra das Contradições em Termos, porra.
O que eu e o Chico Anysio temos em comum
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Dos meus acidentes domésticos na infância às sessões adolescentes de Havoc com meu primeiro carro...
Das minhas certezas indissolúveis aos 20 que viraram farinha aos 30...
Do meu primeiro disco "ah, só tem uma faixa legal mas vou levar assim mesmo" ao meu primeiro corte de cabelo estúpido...
Do meu primeiro porre memorável ao primeiro murro que levei no boxe...
Da minha primeira sensação agradável de déja vu à última desagradável de "já vi isso antes"...
... praticamente não há nada que, comparando, eu não me arrependa mais do que ter acendido aquele primeiro maldito cigarro, há treze anos, ali na rua João Manoel em frente ao bar do Charles.
Hoje, exatamente, faz um ano e meio que parei com (pelo menos) essa idiotice, portanto me dou o direito de soltar esse clichê, surrado porém verdadeiro: nunca me senti tão bem. Para ficar em apenas um bom exemplo, meu V.O. (volume de oxigênio nos pulmões) praticamente triplicou: dá pra correr 12 km em 1 hora sem precisar mais de R.C.P. (reanimação cardio-pulmonar) como no início. Abraços aí, turma do Siate do parque Barigui.
Agora, uma das últimas coisas que quero que me aconteçam nesse mundo (fora me tornar amigo do Netinho) é descobrir em meu repertório aquelas ladainhas de ex-fumantes chatos (aparelho identificador de pleonasmo apitando aqui) e entupidos de uma insuportável sabedoria do tipo "eu já passei por isso, filho. Ouça o que eu digo".
Mas hoje, coincidentemente, acordei com um pigarro leve e constante - desses que tem uma única função prática, além de movimentar o mercado fabricante de pastilhas e xaropes: te lembrar que (ao contrário dos cílios da traquéia, de alguns milhares de neurônios e das sensações prazerosas em geral) há coisas que vão demorar um bom tempo para sumir do mapa, mein Eingeweihter.
Feurio!
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A partir de hoje está instituída a Lei do Abate em céus brasileiros.
Maldição!
Me digam vocês, mandatários dessa josta de país, qual será o próximo decreto bacana legalizando algo que agora - estando completamente fora de idade para alistamento - jamais poderei executar?!
Me diga uma coisa...
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Por acaso, nesses últimos tempos, você...
... descobriu que obtém uma satisfação inversamente proporcional ao tempo que leva em seu trajeto "trabalho-casa"?
... passou a se demorar nos cadernos político-econômicos à razão do tempo que dedicava aos de cultura?
... hesitou, pela primeira vez, em mandar um vendedor de seguro-saúde ao diabo - pelo telefone?
... escutou um leve sibilar causado pelo atrito entre duas linhas de interesse outrora equidistantes: boletins meteorológicos e saídas noturnas?
... sentiu que sua já estabelecida afeição pelo controle remoto tornou-se uma instituição protocolar?
... faz direitinho sua lição de casa, mantendo-se o mais clinicamente distante de reminiscências, encontros de turmas, tributos e outras xaropices, até mesmo atravessando a rua pra não cumprimentar um Muro das Lamentações Ambulante desses que andam impunemente soltos por aí?
... repentinamente descobriu que a razão de ter regulado seu celular para apitar de hora em hora foi para relevá-las - em contraponto às milhares que nem notou passar?
... notou que a sedimentação de fotos, textos e tickets de eventos ocorridos há mais de dez anos poderiam perfeitamente pavimentar seu quarto - em duas camadas?
... sente-se contemporâneo de expressões e/ou nomes como "Turma da Saldanha", "801", "Poeta Maldito", "Estação Primeira", "Coliseu", "Street Beer (sic)", "domingo no Sheena", "Música Viva", "Max Headroom", "Trendie", "BIG", "Twin Peaks na Globo", "Cemitério de Elefantes", "Juventude Libertária (eca)", "Punks 77", "comprei na Noi", "Betamax", "mistura isso com Wacholder" - quase todas de difícil compreensão para quem é uns cinco anos mais novo que você?
Na hipótese de você ter se identificado com pelo menos três das características acima, acredito que uma sensação igualmente desconfortável deva ter cruzado seu pâncreas caso tenha lido, sexta passada, uma matéria no Caderno G da Gazeta tratando de nossa querida Saldanha Marinho. (Tentei colar o link aqui, mas não consigo entender porque somente quem tem conexão discada pode ter acesso às matérias on-line antigas da Gazeta.)
Uma sensação assim, como direi, como se uma parte de sua vida (já não tão notória por excelência) de repente soasse como algo digno de nota, simplesmente porque essa pestilência se fortalece em lembranças rosadas de quem quase nunca esteve lá. Pegue uma lata de verniz da marca "nostalgia" e transforme um lugar como o "Kiss Dance", por exemplo, em algo que valha mais do que a bobagem que sempre foi.
Ora, façam-me o favor.
Feliz como um passarinho
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Meus caros. Tomo a liberdade de anunciar (não sem pesar) a oficialidade de algo que - até um tempo atrás - somente dava a impressão de.
Christopher Walken enlouqueceu de vez.
Já era esperado. Ninguém que tenha encarado o que ele encarou, que tenha ido com tanta proficuidade de um extremo excelente (Cães de Guerra, Caminhos Violentos, Franco Atirador) a outro terrível e igualmente indubitável (Sentinela, De Volta Para o Presente, Homeboy, Scam e bota etc. nisso) em sua carreira filmográfica teria conseguido sair dessa bad trip com o juízo intacto.
(Quando não tiverem absolutamente - eu disse ABSOLUTAMENTE - nada para fazer na vida, arrumem o Estranhos Visitantes para dar uma olhada. Aí vão entender em que contexto aplico o "terrível" mencionado acima.)
E o fato finalmente confirma-se aqui, com o Túmulos Com Vista. Assisti sábado, na Cinemateca. Vejam vocês e, se for o caso, me mandem fechar a matraca. Mas não adianta: não acho que seja humanamente possível alguém interpretar de forma tão visivelmente prazerosa um papel tão estúpido.
E, pior que não conseguir classificar esse filme, foi não chegar em nenhuma conclusão satisfatória se podemos aguardar ou não, a partir de agora, algo digno de nota de uma mente tão claramente comprometida. O troço reverteu, por completo. Por uma extrema infelicidade, mr. Walken está agora - definitivamente - à mercê de seus diretores.
Crech-crech...
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Usualmente nunca tenho pobrema com qualquer tipo de água-rais, sabonete, sapólio, tiner, diabo verde ou outro trubisco desses que uso para tomar meu banho sabatino. Sou o que chamam por aí, nos meios publicitários de produtos de limpeza, de cliente "qualquer coisa tá valendo". Uma espécie de cliente beta. (Ou é alfa? Gama? Alguém aí fez marquetchim?)
Mas hoje, estranhamente, saí da chuveirada com uma coceira desagradável no... bem, lá no... ali no meu... como direi, braço. Ao amarrar o felpudo cordão do meu roupão, tava lá: a princípio uma inocente manchinha como aquelas que surgem quando coçamos o local de uma picada de cascavel. Pegue um mapa-mundi qualquer, em qualquer escala. Localize o desenho da Papua Nova Guiné e, mais abaixo, o da Austrália. A diferença entre um e outro dá mais ou menos a idéia da progressão da mancha rosada em questão de minutos. Legal né?
E é isso. Achei por bem divulgar tal intrigância ao mundo. Uma espécie de alerta à sociedade: pelo menos até acharem a causa, evitem usar as barras de sabão de cor verde escuro. Acho que algum cachorro estragado foi usado no meio do processamento.
Phoneutrias, loxosceles e outros
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Então: vi ontem o Cabeça de Teia 2. Verdades: é mais divertido que o primeiro; o roteiro é bem mais ágil; o vilão é melhor; Kirsten Dunst continua melhor mesmo é como a vampirinha do Entrevista Com o Tom Cruise e os efeitos são melhores (as cenas de vôo do primeiro me irritaram um pouco. Nesse elas são - quase todas - perfeitas).
E, sim Biscaia: a sequência do elevador é duca. E fica ainda mais engraçada se levarmos em conta que o sujeito que nela contracena com o Tobey Maguire é o mesmo que interpreta um gay fanático por quadrinhos no Queer as Folk.
Agora, negócio é o seguinte: tô nem aí para as explicações científicas da razão dele escalar paredes, lançar teias orgânicas e sair andando de quedas de trocentos metros (direto no cimento) somente com os cotovelos ralados. Minha grande dúvida é: como é que alguém que vive numa pindaíba daquelas (pensão, bico como entregador de pizzas) arruma grana pra mandar confeccionar um uniforme bacana daqueles? E cheio de detalhes em relevo daquele jeito, cazzo!
Vade retr(ô)
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Que os anos 80 foram uma tragédia em quase tudo que se refira à fuselagem de um indivíduo (roupas, cabelos, acessórios) eu sei porque vivi minha pré-adolescência em boa parte dessa década das trevas. Agora, pelo menos até onde me lembro, nenhum cara - por mais metrossexual desavisado que fosse - teve a coragem de sair na minha rua usando uma belly-shirt com sobretudo, como exemplifica o rótulo dessa pérola que a Versátil/Seleções está soltando no varejo de DVDs, esse mês. Pelo menos não sem arriscar seriamente sua constituição dentária.
Procurei o nome desse infeliz no Imdb (nunca se sabe quando precisaremos chantagear alguém, ora pois) e descobri que minha cultura inútil "oitentêra" está embaçando. Afinal, quem é o cidadão? Matthew Barry ou David Sherrill? E, o mais importante: seja lá quem for, como é que ele trabalha hoje em dia com a idéia de ter sido registrado para a posteridade a bordo de uma calamidade dessas?
The horror...
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A primeira coisa que vi dele foi o primeiro Chefão, numa sessão noturna de sábado na Globo, milhares de anos atrás no século passado. Lembro que passei uma semana colocando bolas de algodão na boca, falando sussurrado e assustando meu irmão mais novo, que identificava em Victo Corleone a síntese da repressão paterna.
Lembro também que, algum tempo depois, fiquei muito puto. Primeiro porque achava que todo mundo deveria atuar como ele e isso não acontecia. Comparações indevidas assim me afastaram de quase tudo que hoje é bom, de Hopkins a Malkovich, de Irons a (vá lá) Nicolas Cage e etc (mas só até assistir meu primeiro Monty Python e as coisas entrarem devidamente nos eixos). E segundo porque - em meados dos 80 - vi o Apocalypse Now numa sessão clandestina dentro do colégio em que estudava. Aí foi minha vez de ficar assustado com o coronel Kurtz.
Já comentei no Ódio, mas replico aqui: triste é o ano em que figuras como Charles Bronson e Marlon Brando o escolhem para desaparecer.