O futuro somos nós
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Estava eu extraindo do feijão preto minha porção diária de betacaroteno (sem a qual, possivelmente, meus níveis de stress atingiriam a plenitude homicida) quando me dei conta do inevitável: faltam 120 horas para exercermos nosso dever cívico maior! O de elevarmos um filho da puta desses ao posto de mandatário desse vilarejo!
E o de salvarmos a lavoura de mais um tanto de outros cretinos semi-alfabetizados que mal podem esperar por seus salários de vereador para enfim saírem do vermelho.
Diante de tal e ombreando minhas ambições igualmente humanitárias, revelo que o preço do meu voto esse ano é bem menor. Porém dirigido exclusivamente a apenas um dos nobres candidatos anteriormente mencionados:
A você, Beto Richa.
Há apenas uma chance de você obter meu sacrosanto voto. Quero ver você, pessoalmente, botando fogo numa cadeira de rodas. Espalhando um monte de muletas em praça pública e passando por cima com um rolo-compressor. Distribuindo bicudas em andadores geriátricos e arrastando pelas ruas uma fieira de botinhas ortopédicas do dr. Scholl.
E, ao final, quero ver você assumindo publicamente que aquela imagem congelada sua, (na abertura do seu programa, lembra? dando aquela passada larga) tem um único objetivo: comparar-se, locomotivamente falando, àquele outro paspalho: o Vanhoni.
Vamos lá, garoto. Você tem 03 dias. Faça isso e prometo, tal qual um político, que meu dedo desviará da teclinha branca nesse domingo.
Minha segunda-feira querida (parte 2)
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De olhos bem fechados
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Não é o Kill Bill Vol.2 e nem o Batman Ano 1. Se existem duas estréias nesse mundo que eu quero que aconteçam duma vez, antes que eu perca definitivamente a compostura, são as dos filmes O Enviado e Chamas da Vingança.
Antes de assistir qualquer coisa num Cinemark, por esses dias, faço a seguinte prece: "Meu caro Tom Waits. Essa semana eu fui um menino bom, cordato, calmo, tranquilo e sequer cheguei perto da faca da cozinha - conforme anteriormente prometido. Me mantive distante de qualquer tipo de palestra ou prestação de serviços que colocassem em risco a integridade física de pessoas e objetos. Portanto, peço: queime, desatomize, liquefaça, esfacele e vaporize todo e qualquer trailer de lançamento da Imagem Filmes e Playarte."
Já deu pra decorar as falas. E o pior: um deles é do Tony "granulado e arrombado" Scott. No trailer dele você já torce pra que a garotinha (a Pinta, ou Pita, ou Puta) leve logo um balaço na cabeça pra você não ter que aturar mais um "He's seemed a bear. A big sad bear..." ou alguma porcaria assim.
Mas o De Niro no Godsend não fica atrás. A imundície nem estreou ainda e o corno me aparece até nos trailers de DVD de videolocadora, porra! Aquele trecho em que ele projeta o queixo em direção ao Greg Kinnear e rosna "What we had done! What weeeeeeee had done!" já deveria figurar em alguma comunidade de ódio dessas.
Aliás, srs. exibidores, pensem no trailer do gato. Aturar somente ele já é castigo suficiente, imaginem então o que é isso somado à lenta desova - e seu subsequente bombardeio antes da exibição de cada maldito filme - de tais porcarias que v.sas. tão alegremente enfiam nas salas de projeção no lugar de coisas boas que esperam, por baixo, quatro meses pra estrear nessa província. Ah, sim: e quando estreiam.
É primavera
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Reconheço o que devo ao sr. Cacá: a oportunidade de ter ouvido o microdiálogo que transcrevo abaixo.
Para quem não sabe (ou não se lembra, ou gostaria de esquecer) o sujeito foi proprietário da hoje extinta loja de discos Música Viva (aquela que ficava nas entranhas da galeria Júlio Moreira) e que - junto com a 801 Discos e a Savarin - evangelizou boa parte desses trintões que infestam os James da vida hoje em dia.
Era hábito ficar perambulando por ali remexendo no acervo e irritando os atendentes ocasionais com pedidos de música. Me lembro também que, nesse dia em questão, a matilha era formada por mim, Claudião e mais uns dois que se ocupavam naquele momento em tirar sarro um do outro, dos que passavam pelo lado de fora da loja e outras atividades tão caras a sujeitos tão nobres.
Quando - para o silêncio geral do ambiente - entra um estudante com cara de imbecil, olha em volta meio perdido e pergunta a Satã em pessoa:
- Cara, você tem aí alguma coisa assim... tipo... tipo quando o cara toca pra caralho... tipo como se ele fizesse a guitarra falar?
Olhei para o lado no exato instante em que o Claudião se atirava porta afora para poder gargalhar, tipo assim, com mais comodidade. O Cacá então, do alto de sua monumental e famosa compreensão, responde:
- Não. Não trabalhamos com adestrador de instumentos.
O garoto fica um pouco em silêncio. Olha pra barba do Cacá e, insatisfeito, volta à carga:
- Nada assim... como se o cara entrasse na música?
Aí o Cacá olha (pela primeira vez) para o garoto, suspira e se supera:
- Não, cara. A gente também não trabalha com putaria.
A Escova de Dentes de Occam
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Navegando pelo Google em busca de uma gravura do sr. William de Occam que fosse diferente disso, acabei encontrando um blog cujo espírito de porco esportivo é muito parecido com o meu: o Occam's Toothbrush (donde também retirei o cartoon do meus post de ontem) já devidamente acomodado ali na coluna da direita, perto da saída p/ a garagem.
E o mais bacana, além da menção que o sr. Freedman fez à Motosserra, foi descobrir que um de seus leitores utilizou uma espécie de programa que traduz o texto inteiro de um blog - para que eles tivessem uma idéia mais clara do quão estúpido eu sou. Não consegui linkar o endereço do trubisco aqui, mas é só abrir a janela de comments do post "Occam's Chainsaw" dele e dar uma espiada no comentário do sr. Goodfellow. O sr. Glauquito Mendes também fez uma ponta nessa participación cucaracha de nosotros.
Alguém aí sabe qual foi o programa tradutor que o sujeito usou?
Minha segunda-feira querida (parte 1)
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Produzo bandas a preços módicos. Tratar aqui.
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Algo que eu decididamente gostaria de saber se existe, movido não pela música (que detesto), mas pela curiosidade geral da coisa:
Uma banda de reggae do cão.
Do chifrudo. Do tinhoso. Que troque os "jahs" nas letras por "abraxás", "belzebu", etc, e que - por exemplo - componha uma ode àquele casal de Campinas que criou o único esporte verdadeiramente radical da história: o arremesso de bebês contra párabrisas de carros. Ou seja, do capeta mesmo. Tipo Brujeria.
A princípio, achei que a existência de algo assim só poderia se dar no Japão, devido ao habitual pouco caso que os orientais dão aos símbolos cristãos. Mas deles não quero. A eventual banda tem que acreditar mesmo no que faz, por mais estúpido que pareça. Como todos os regueiros do bem.
E, na hipótese de não haver nada nem remotamente parecido com isso... passemos logo da antropologia ao mercantilismo, pois.
Moral e cívica
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Alguns bons motivos p/ você ver o Redentor (ou, a tropical opera of social chaos, segundo o imdb):
- Ninguém se dá bem.
- Não há mocinhos e heroínas. Todo mundo é culpado, salafrário, potencialmente picareta e (literalmente) capaz de matar o próprio filho por grana.
- Camila Pitanga. (E aqui, pelo visto, uma explicação se faz necessária: acreditem ou não, bando de pervertidos, refiro-me à atuação dela.)
- Seu maior ponto fraco (a narração artificial do Pedro Cardoso) incomoda, mas não afunda o barco.
- É divertido.
- O moral da história (não confundir com lição de moral) se é que existe, trafega por vias tão tortas que só aparece umas duas horas depois - quando você está em casa, ocupado demais em dormir pra dar bola pra ela.
E, o mais legal de tudo:
- Finalmente alguém deu à nossa obra maior da música erudita (O Guarani) o posto que lhe é devido: o de piada. No cinema, até agora não houve destino mais correto para uma música tão ufanista, pomposa, metida a besta e brega.
Faça sua boa ação de hoje
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Me conte o final do Terminal.
Sério. Ontem, enquanto assistia o dito, Tom Waits manifestou seu poder interrompendo a projeção por "problemas técnicos" perto do terço final. O que, em se tratando desse Spielberg, também pode ser encarado como Providência Divina já que acredito que dali em diante meu pâncreas explodiria de tanto açúcar.
Portanto fiquei sem saber:
- O que havia dentro da lata de amendoins,
- Se o imbecil volta pra Krakhozia,
- Se o personagem do Stanley Tucci arranja um motivo real pra odiar o imbecil,
- Se a Zeta-Jones consegue chegar ao final sem estourar a cota de canastrice (tava bem perto).
Façamos um trato: vocês me contam o final do Terminal e eu mantenho o final da saga Star Wars em segredo. Que acham?
Matuschanskayasky não tem amigos
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(Afora o gibi) eu já havia lido a respeito do Harvey Pekar por ocasião da treta que ele teve com o David Letterman - há algum tempo atrás - e acho que foi ali que comecei a me dar conta do quanto estou de saco cheio de uma espécie específica de loser: o tipo patológico.
Desconforto esse que no Anti-Herói Americano tem uma origem: a convivência a que somos submetidos com sujeitos que legam ao mundo a culpa pela ausência de estrelas em suas vidas. Que responsabilizam a prefeitura pelos buracos nos sapatos na mesma medida em que se alimentam de um saudosismo que só existe na cachola de cada um deles.
O que há de tão interessante num ponto de vista tão derrotista como o dele talvez seja exatamente o que ocorre aqui, nesse texto, e que vem acontecendo há décadas como resultado direto: o que há de tão legal assim na vida desse ex-arquivista para que falemos a respeito? É um caso curioso de um filme muito legal sobre um sujeito que eu sequer cumprimentaria na rua, daí a questão: gostei porque o que já li do American Splendor era desenhado pelo Crumb, ou porque a curiosidade mórbida sobre a vida alheia falou mais alto?
Já sabia, mas não havia tido a oportunidade de confirmar a teoria de forma tão completa - até esse sábado. É verdade: existem filmes que são danados de bons por (ou apesar de) apresentarem personagens que são muito irritantes, chatos, pentelhos, negativistas e - nesse caso - sujos. Mas não pelo lado Walter Matthau da coisa. Pelo lado doentio, mesmo.
My personal 11.09
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Sábado é o dia internacional de se irritar já pela manhã. E faz uns três anos que também é dia de descobertas. Hoje, por exemplo - ouvi no rádio uma coisa que, além de ter feito com que o volante do meu carro sofresse um murro - provavelmente vai mudar minha vida pro resto da vida nesse nosso mundinho corporativo neo-hippie:
Eu fui um espermatozóide com coaching emocional.
Deixa pra quem entende do riscado
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É bem provável que a série Miami Vice tenha sido responsável pela minha primeira sensação outsider: a de torcer pelo vilão ao final de cada episódio.
Não só porque quem representava o lado do "bem" era o Don Johnson (que merecia mesmo tomar umas porradas pelo vestuário que usava) mas também porque (à parte o padrão de vida inexplicável que os protagonistas levavam para quem trabalhava somente como investigador policial) havia nisso uma "importação" da nossa realidade que até então, para mim, era inédita numa série de TV.
Hoje isso pode parecer uma besteira para vocês, jovens fãs do Riddick, mas calculem o que representava para um adolescente em meio a todo aquele Esquadrão Classe A e Automan da época. Da maneira com que um indivíduo era mostrado sob efeito de cocaína à cara do Edward James Olmos, tudo parecia dizer: "Achou bacana, pirralho? Aguarde o próximo tiroteio."
Por isso, ontem, fui ao cinema pagar parte do meu débito com Michael Mann. Collateral é previsível sim, mas pelo lado bom da coisa. E isso, pelo que me foi apresentado na tela, muda de nome. Ganha aquela denominação que raramente empregamos quando nos chega o resultado de algo que solicitamos: vira "serviço bem feito". Previsível para mim, que já esperava o jeito como ele faz com que uma trilha sonora trabalhe totalmente a seu favor. Até mesmo quando o que se ouve da tela é a porra do Audioslave.
Sou capaz de afirmar que ele é o único que possui uma "assinatura visual" que, atualmente, não torra o saco e que não envelheceu - a exemplo de, infelizmente, Julien Temple. "Ah, mas parece coisa de neguinho com formação publicitária...", "todo mundo faz isso hoje em dia..." alto lá, caterva. O neguinho aqui em questão fez a aula inaugural do boteco onde essa gente toda recém vomitou-se. E qualquer um que tenha colocado uma vírgula que seja num rascunho do Starsky e Hutch já valeria mais do que vinte Tony Scotts.
Sabe aquele mecânico amigo da família há anos, que nunca pisou na bola e que consertou a toque de caixa aquele teu Puma pra viagem do final de semana, naquele distante 85? Pois aquele caboclo em cujas mãos você depositou toda sua confiança naquele dia é o meu correlato do sr. Michael Mann.