Motosserra indica
(errou. tente aqui, agora)
Pare ali, na esquina das ruas Estados Unidos com a Canadá - no Boa Vista - desça do carro e peça um cachorro quente.
Enfie as mãos nos bolsos, assobie, olhe em volta e observe um dos responsáveis no fabrico do repasto. Dê uma olhada no que estiver passando na televisãozinha pregada no alto de uma caixa, à direita. Aí baixe os olhos e veja o que está pendurado logo abaixo dela.
Sim. É isso mesmo, você não está enganado. O que está ali não é um alvará. E sim, sua dúvida é cabível: afinal, qual seria o tipo de alvará que autorizaria alguém a montar uma cabana no meio da calçada, certo? E não, aquilo ali também não é um certificado do Top of Mind.
O que está ali, emoldurado e protegido das intempéries há pelo menos nove meses é tão somente uma singela notificação oficial da Secretaria do Meio Ambiente.
Isso mesmo.
Alguém ficou puto com o barulho da televisãozinha ou da mastigação dos clientes e acionou os mecanismos repreendedores da prefeitura. Um fiscal apareceu por lá e tascou no bloquinho: "tomar providências imediatas com relação ao não cumprimento da lei do silêncio (barulho de televisão e som alto de carros estacionados)". O fulano autuado não teve a menor dúvida: pegou a notificação, enfiou-a dentro de um quadro e pendurou-a ali, para apreciação dos clientes. Em 14 de janeiro desse ano.
Desde então ninguém pode reclamar que pelo menos uma providência deixou de ser tomada: a de deixar bem claro o quanto uma falta de informação pode ser ironicamente bem aproveitada.
Lost in translation
(errou. tente aqui, agora)
"Um dia na vida da T-Shirt Hell:
Frequentemente me perguntam: 'Antoine, como é comandar a T-Shirt Hell? Como é um dia típico para você?'
Eu acordo normalmente por volta das 6 da manhã para checar se as crianças que fabricam nossas camisetas foram alimentadas, antes delas iniciarem seu exaustivo turno de 14 horas. Se me deprime vê-las vivendo em meio ao lixo, cobertas com sua própria imundície e brigando por um pouco de comida? Não.
Então eu volto para a cama e fico por lá até à tarde.
Quando por fim me levanto e vou até o closet para escolher a roupa do dia - o que pode perfeitamente levar um bom tempo. Lembra da casa do Shaquille O'Neill no Cribs? Ela caberia no meu closet.
Enquanto isso, minha equipe belga de segurança particular tem tempo para checar os arredores da casa em busca de algum convidado perdido da festa indecente na noite passada. Normalmente boa parte deles já foi comida pelos cães. As mulheres em minha cama são livres e sujeitas a uma completa e (à sua maneira, prazerosa) revista íntima. Mas sou generoso. Nenhuma delas está encarregada do obrigatório cata-piolhos ao anoitecer e nenhuma delas sai daqui sem um tapinha na cabeça e um razoável troco para o ônibus.
Então me acomodo para meu lauto almoço. Animais raros e exóticos do mundo inteiro são trazidos e abatidos à minha frente, para a satisfação de meu paladar e divertimento geral. Se você já sentiu o prazer de escolher uma lagosta em um tanque num restaurante, você já sentiu a alegria de selar o destino de um animal indefeso. Mas, meu caro, você ainda não viveu até provar de sua própria criação de focas.
Por volta das duas da tarde vou até o T-Shirt Hell Plaza 1 para averiguar a quantas andam nossos planos de dominação mundial. Checo pessoalmente se as armas de destruição em massa do Iraque estão dispostas de modo organizado e se nenhuma das armas biológicas e químicas está pingando além dos níveis aceitáveis.
Depois, vou até a redação onde 400 macacos estão acorrentados à máquinas de escrever criando slogans de camisetas. Sei que você provavelmente pensará que essa não é uma quantia suficiente de macacos. Mas sejamos honestos: ninguém aqui está tentando escrever Shakespeare, apenas camisetas engraçadas. Cada macaco é responsável por criar 5 slogans engraçados por semana. Qualquer macaco que não aparecer com 5 linhas coerentes por semana é imediatamente rebaixado para o serviço de atendimento ao cliente. E cada macaco que não se adaptar ao SAC é rebaixado ao envio de informativos como esse.
Então retorno à minha propriedade onde passo a tarde alimentando sem-tetos... para os meus cães. Mas você não pode alimentá-los demais, afinal eles ainda devem dar cabo dos baladeiros que abusaram de sua hospitalidade ficando na festa além do devido.
Não demora muito e logo temos uma noite de orgia bêbada com os ricos e famosos, os devassos e os perigosos. Jogos eróticos como "adivinhe quem trepou com a puta aidética" e "quantos dildos cabem no rabo dessa adolescente perdida" atravessam a noite. Por volta das 3 da manhã tranco todas as portas e boto fogo no salão de festas. Não se preocupe. Ele é muito bem vedado. Apenas um fio de fumaça ou um abafado grito de misericórdia escapam. Então uma refeição ligeira light e vou pra cama.
E tudo isso graças ao generoso apoio de pessoas assim, como você."
(tradução livre)
Serviço Motosserra de Considerações Tardias - prot. 01/2004
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É do meu interesse assistir Exorcist - The Beginning tão logo sua estréia aconteça. Porém, antes, encuquei que devo ver o primeiro de novo - motivo esse que há semanas me faz rondar sua cópia na minha videolocadora habitual. Pego, não pego. Seguro a caixinha, reexamino pela milésima vez o rótulo com a arte fantástica do cartaz original... e reponho-a no lugar, saindo com outro título qualquer dentro da sacolinha.
Tenho essa relação com meus filmes preferidos. Receio da decepção. Afinal, penso que nada - absolutamente nada - me trará o terror inicial de ter visto esse filme pela sua primeira e maravilhosa vez, no cinema (já em reprise, obviamente) por volta dos meus 16 anos. Somente O Iluminado chegou perto. Mas aí minha folha corrida já era motivo suficiente para outras preocupações mais terrenas.
Pois bem. Não precisei gastar meus 3,50 afinal, graças ao seu Sílvio. Revi o dito sexta passada, em TV aberta e dubladão. E gostaria de pedir satisfações pessoais ao fulano que ardilosamente, ao longo de todos esses anos, espalhou as características abaixo num dos meus filmes de terror prediletos. O que antes resumia-se a um único "MANHÊÊÊÊ!!!" esfacelou-se assim:
* Culpa, culpa, culpa. Da mãe ateísta divorciada ao padre quase edipiano (e sua fé recém-perdida) e da resistência emocional reduzida por ela à sua remissão através do sacrifício extremo - o filme talvez seja o maior tratado já feito sobre esse privadíssimo sentimento humano.
* À sua época (1973) alguns signos hoje considerados politicamente incorretos funcionaram que uma beleza: a proximidade entre conceitos de "arte" e "heresia" (sequência da festa) e o embate "ciência x religião", onde uma junta de 88 médicos decide que o exorcismo poderia - como suGestão* psicológica - atingir resultados mais satisfatórios.
* Mais do que o choque causado ao mostrar uma garota de 12 anos ferindo o rosto e a vagina com um crucifixo, é interessante como - indiretamente - o maior tabu quebrado fica por conta do descrédito atribuído aos homens-instituições de maior prestígio daquele tempo: padres e médicos. Tanto um grupo quanto o outro mostram-se igualmente incompetentes em peitar o chifrudo.
* Ainda no "razão x emoção": note que toda vez que a menina Regan é mostrada dentro do hospital, tudo tenta parecer ainda mais assustador que a perspectiva da possessão. Máquinas gigantescas e barulhentas, punções dolorosas, rostos frios e o insuperável ar de "isso não está certo" dos médicos.
Resumidamente, o chover no molhado ficou nisso. Sem esquecer que, claro, o objetivo inicial do post era lhes convocar a assistir outro filme com final igualmente corajoso e insuspeito: Mar Aberto. Mas desse eu falo novamente daqui a vinte anos. E só se passar no SBT.
(* não tem outra coisa melhor que ficar corrigindo os outros não, Lemke dos sete infernos? tá feliz agora, maldito?)
Sumkinda monster
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O que é teu tá guardado
- Doors (do século vinte e um) com Ian Astbury gordo e careca.
- MC5 (ou 3) vende o logo por uns trocados e ganha a oportunidade de acabar (de novo) com a banda em Goiânia.
- Village People no aniversário de 5 anos do Mais Você. Com direito a uma Ana Maria Braga pedindo para o grupo - a 2 minutos do final do programa ao vivo - repetir o mesmo playback.
Faça o que quiser em vida. Mate, roube, mutile. As chances de você prestar contas disso são poucas. Mas não retorne dos mortos. Salvo exceções, o preço a pagar é alto demais.
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Classificados
Curso de adestramento para títulos de posts - procuro.
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Bem vindo lá
Saber que esse fariseu aqui continua vivo e escrevendo (bem) me deixou um tanto quanto ousado. Ouso duvidar da eficácia do álcool, da nicotina e do excesso de filosofia quando o assunto é auto-extermínio. Ah, tá em sumpaulo? Então algo faz sentido. Teje linkado ali do lado, seu Fábio.
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Salgadinhos, sr.?
Estudos recentes afirmam que a inclinação natural em ajudar seus semelhantes, e não a lei do mais forte, configura o motor principal na evolução da espécie humana - donde concluo que sempre tive razão em três coisas:
- Aquela imagem clássica do lince perseguindo a lebre na neve, em slow motion, é uma das coisas mais altruístas que já vi na vida.
- My humourstyle determines my deathstyle.
- Minha falta de paciência está profundamente ligada ao teu excesso de otimismo.
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Com licença, Nataniel Jebão
Quem é Daniela Cicarelli?
E, caso exista, por que é tão burra?
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Nem tanto ao céu, nem tanto à terra
Enfileire assim:
- Killers - On Top.
- Eastern Lane - I Said Pig On Friday
- Elf Power - The Cracks
- British Sea Power - Fear of Drowning
- Walkmen - New Year's Eve
- Stellastarr - Somewhere Across Forever
E você quase sai distribuindo bons-dias a esmo pela rua.
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A melhor frase pré-sexo da história do cinema-porrada:
- Eu estava passando... e achei que você gostaria de uma flor.
(Kelly Le Brock - na soleira da porta - para um Steven Seagal recém saído da máquina de pull over - ainda com os tríceps pulsando - em Difícil de Matar)
Perca tudo agora
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Em conversa recente com nosso considerado Biscaia (por sinal, gostaram do Morgue Story? É? Então por que ainda não foram ver a peça Snuff Games, cazzo? Até dia 31 no teatro Edson D'Avila. Vão lá, porra!) fui alertado sobre a mais nova insensatez cometida por um desses espécimes esquisitos de nossa fauna, os atores.
Quer emagrecer? Então esqueça tudo o quer você ouviu até agora a respeito.
O lance mesmo é comer uma miséria de atum e uma maçã, por dia, durante um mês. O resultado disso você vê aqui e aqui. Se uns 30 quilos não escorrerem esgoto abaixo contigo, peça satisfações ao Christian Bale. Ele jura que isso foi o suficiente para encarnar o protagonista do The Machinist - um operador de torno que não dorme há um ano.
Se bem que, com uma dieta dessas, nem precisava jurar coisa alguma. O que não consigo entender é: como, em nome de Tom Waits, esse cidadão ficou em forma para o filme seguinte (Batman Begins)?
Confiando na natureza
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Pois bem, macacada. É meu dever anunciar que o patrono, guru espiritual e consultor financeiro desse blog tem filme novo cuja estréia está marcada para breve, aqui mesmo nessa província.
Agora vamos lá:
Vocês entenderam, srs. exibidores? Ficou claro? Deu pra, por assim dizer, absorver a mensagem? Ou, se for o caso, exatamente em qual parte do PARA BREVE vocês querem que seja feito um diagrama?
Dead letter
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"So, I guess Superman V is out, huh?
I can't get over the fuss they're making over the death of Christopher Reeve. It's like he was some kind of Saint. They talk about how tirelessly he worked to get funding for research to cure paralysis. I'm sorry, but am I the only one who notices that he might have had a little something to gain if all of this hard work paid off? The man was a human doorstop. If Christopher Reeve had fallen off his horse and bounced back up unharmed, and then decided to devote his life to curing paralysis- then I would be impressed. If Christopher Reeve became paralyzed, and then devoted his life to finding a cure for world hunger, cancer, or blindness - then I would think that this guy was pretty heroic.
Believe me, if I had an accident and my penis was turned inside out so that every time I took a piss it came out my nose, you'd better believe I'd spend some time looking for the cure for inside out penisitis. I think I would discover I had a real passion for it that I was previously unaware of.
Do you want to know who you should look up to? Me. Because every day I put up with an ocean of shit from small minded idiots and big corporations who want me to shut up and go away. Well it's not going to happen. Not until they pry this keyboard from my cold dead hands. And that's not easy. I got this keyboard by prying it out of some other guy's cold dead hands and it was tough. I had to break all of his fingers. I'm just kidding. He wasn't really dead."
Outros pontos de vista from hell aqui. E, antes de cadastrar-se para recebê-los:
"If you do not want to receive this newsletter, why did you fucking sign up for it, you idiot? You can use the link below, or if you're too stupid to make that work, you can hit Reply and type REMOVE in the subject line. Or you could close your email account and open a new one. Might I suggest:
iamanuptightfuckinglosercuntdouchebag@touchmyinfection.com."
Feira livre
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No princípio foram os anúncios em portas automáticas de shoppings. Em seguida, folhetos casando o dito cujo com um putilhão de promoções - de sorvetes a Viagra. Depois, outdoors. E, finalmente, o destino natural para tudo que é jaguara, popularesco e de baixo nível nesse mundo: estrelar comercial de Fanta.
Chega. Não aguento mais nem ouvir o barulhinho do maldito.
Alguém aí quer comprar um Motorola C200 com 6 meses de vida? Só derrubei no chão duas vezes.
E, caso não encontre um comprador dentro de uma semana, só jogarei ele na parede uma única, violenta e catártica vez.
Thx, mr. tambourine man
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Uma constatação de suma relevância, ontem, assistindo ao simpático A Dona da História: enquanto aguardava o início da projeção (corte rápido para barulho de mastigação, sacolas sendo reviradas, amassar de pacotes, risadinhas, imbecis que se acham engraçadinhos, etc.) percebi que, aparentemente, uma das minhas preces havia sido atendida.
E é fato.
Meus caros, o trailer do gato desapareceu. Sumiu. Não existe mais, pelo menos no Cinemark do Mueller.
Portanto, aproveitemos essa trégua em toda sua curta duração. Pois tenho certeza que nossa trepidante escumalha publicitária já tem algo tão ou mais criativo quanto aquela indecência para botar no lugar. Até lá, pelo menos, já posso deixar em casa minha focinheira e o mordedor.
Eu tenho. Você não tem.
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Esse papo todo sobre camisetas me fez lembrar um negócio: até hoje não consigo compreender os motivos que levam alguém a sair por aí envergando uma com o dístico "100% negro", por exemplo.
Veja bem: em que pese toda a intenção do sujeito em mostrar ao mundo que ele tem, sei lá, orgulho de pertencer a um povo outrora escravizado ou que ele ache a cor bonita, etc - o que fica na superfície (pra mim) é aquela velha sensação desagradável de racismo às avessas. Sempre.
Mesmo porque, a rigor, o conceito de "raça" como conhecíamos até um tempo atrás virou balela. Tal besteira não existe, segundo estudos recentes, porque nos desenvolvemos a partir da mesma criatura estúpida o suficiente para insistir em sair por aí sobre as patas traseiras e falando bobagem: o chimpanzé africano. A diferença de cor de pele é herança genética ligada à predisposição de suportar - ou não - uma carga específica de rigores naturais do meio à sua volta, seja isso o frio ou a luz solar. Propriedades - aí sim - diferenciadas conforme o ponto no planeta para onde se dirigiu esse ou aquele bando.
Mas, na hipótese do motivo todo ser o passado sofrido de um determinado grupo desses, me pergunto porque não existem as igualmente incoerentes "100% judeu", "100% ianomami", "100% inca", "100% atlante" e "100% czarniano"?
Racismo, em sua gênese, já é uma idiotice abismal - toda própria desse tipinho rasteiro que atende celulares e produz cópias infláveis de suas fêmeas. Imagine agora quando a retórica esvazia-se ao ponto de virar um "eu tenho mais melanina que você".
Ora, façam-me o favor.
Minha segunda-feira querida (parte 3)
(errou. tente aqui, agora)
Wartend
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Há dias tento expelir da garganta uma esplêndida maçaroca de pêlos, mais ou menos do tamanho de uma bola de tênis - feita de uma mistura de apreensão, angústia e ansiedade. Maldito trailer do Kill Bill Vol.2.