Jet Li
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Posts curtos. Cara, isso vicia de tão bom.
On the run
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E essa charrete agora dá a impressão de estar sendo tracionada pelos bodes de Odin. Até parece um Mac.
O dia do juízo
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Então eram vocês, malditos? Com esse nomezinho tão cândido: "cookies", vejam só. E ladinos a ponto de rechear minha máquina sem que eu percebesse tal sorrateira apropriação. Seus putinhos. Mas, graças ao nosso Vergílio virtual (falaí, Bruneaux), suas alminhas agora descansam sob a sola do meu coturno. Lugar de cookie é no armário, dentro de um pote e ao lado do café Damasco, cazzo.
Linguagem é um vírus
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Problemas aqui. Antecipadamente peço desculpas pela minha falta de comentários na blogosfera em geral: não estou visualizando atualizações recentes nos blogs listados ao lado, a partir dessa máquina aqui. Assim que meia dúzia de cabeças forem cortadas em busca da solução para tal, retornarei ao convívio dos meus.
Bruneaux dix:
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"1- Pegue o livro mais próximo de você.
2- Abra o livro na página 23.
3- Ache a quinta frase.
4- Poste o texto em seu weblog junto com estas instruções."
Então tá:
"Podemos entender a improbabilidade de tal situação considerando o ar em uma sala".
Agora explicaí, mr. Offman. Qualé desse trubisco?
Traídos pelo desejo
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São 09:45 e acabo de me instalar em meu ambiente de trabalho. Alguns e-mails que alguém imprimiu e deixou sobre minha mesa:
"NOME: A.C.
PRODUTO: I Love country ballads
TEXTFIELD: Caros senhores. Gostaria de receber informações sobre como adquirir esse cd. Tratasse de uma coletânea country. Certo da atenção, a."
"NOME: A.
TIPO: duvida
ASSUNTO: produto
TEXTFIELD: Olá!!! Eu gostaria de saber se vcs possuem o CD da banda Queens Of The Stone Age. Pq eu já procurei por todos os lugares e ñ encontrei esse CD. Favor avise-me caso tenha esse CD em algumas de suas lojas. Obrigada"
"NOME: P.
TIPO:duvida
ASSUNTO: distribuicao
TEXTFIELD: como faço para adquirir o cd summer do the"
"NOME: A.
PRODUTO: cd/"sin bandera/" e "de viaje/" da dupla latina/"Sin Bandera/"
TEXTFIELD: O cd/"de viaje/" tem o tema musical da novela mexicana /"Amor Real/" do SBT."
Segunda-feira.
Vanishing Point
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Enfileirando numa ordem decrescente as sugestões enviadas por vocês para montar um set list que não fizesse feio num próximo Arrancadão desses, acabei criando um efeito colateral: surgiram alguns critérios sobre a montagem e/ou desmontagem do elemento mais importante (fora os auto-falantes, claro) dessa história: o carro. São eles:
+ Injeção eletrônica é coisa de fresco.
+ Ar condicionado e direção hidráulica pra quê?
+ Mencione ABS e ganhe uma escarrada nos sapatos.
+ Num mundo perfeito, apenas esses modelos de suspensão deveriam existir: o "pau véio", o "queixo duro" e o "osso seco".
+ Motorização: qualquer uma desde que adaptada para uns, no mínimo, duzentos cavalos acima do permitido.
Submeti meu próprio carro ao rigor dos critérios acima e descobri que dirijo um veículo quase tão sissy quanto o da Penélope Charmosa. Frente tal fato, percorri algumas oficinas abaixo do razoável aqui de Sta. Felicidade em busca de onde a dor e o desespero se hospedam em férias. E achei. Meu afável mecânico puxou uma porta corrediça e provou-me que o demônio tem olhos verdes: um Ford Maverick 75 Super verde-musgo que, a despeito do tempo ali parado, ainda não tinha arrefecido o mau humor e o desprezo pelos bípedes.
Apelido carinhoso: "Medonho". Canecos: 6. Desempenho: 4km/litro de gasolina. Um Volvo NH carregado com 12 toneladas de areia faz 2,5km/litro de diesel. Faça a comparação. Minha única experiência anterior com um modelo similar me havia dado, a cada arrancada, a idéia exata do formato das molas dentro do assento do suicida, digo, do motorista. Uma vez que considero esse o melhor cartão de visitas do mundo, me apresentei: ele respondeu ao toque dos meus dedos no capô com uma descarga elétrica quase imperceptível, menor que um estalo. Estava feito.
Ao teste, pois:
Obs. I - As 8 sugestões enviadas dão mais ou menos a quantidade certa para o lado A de um K7 de 60 minutos. Ei, você não acha que eu faria o desaforo de enfiar um CD player num Mavecão 75, certo? A ordem delas segue a resolução 02 do Manual de Normas e Procedimentos Para Gravações em K7 na Década de 80, ou seja: "a mais fodona por último".
Obs. II - O cálculo avaliativo funcionou mais ou menos assim: imagine um cabo de alimentação ligando meu cérebro ao meu pé direito. No meio do cérebro, um lugar para encaixar uma pilha (a música). O "fator crash" é medido pelo impulso incontrolável de pisar fundo no acelerador conforme a voltagem da pilha.
Obs III - Velocidade inicial: civilizados 60km/h.
Obs. IV - Circuito do teste: Pista do Bosa, ou "Bosômetro", na Lamenha Pequena. Ele mandou dizer que se alguém perguntar alguma coisa ele desmente ou não sabe de nada. Valeu, Bosa.
Driver Down - Trent Reznor: Aqui, tudo em ordem. A princípio, seguindo o martelo da música, comecei a ter um leve espasmo na pálpebra direita. Mas era reflexo involuntário causado por uma noite mal dormida. Acho. Nível de descontrole: 65 a 70km/h, sem perceber.
Mr. Self Destruct - Nine Inch Nails: Tremor um pouco mais intenso se extendendo pelos braços e indo até as mãos, que não paravam quietas. Sobressaltei-me até perceber que era o caminho inverso: na verdade estava apenas acompanhando o ritmo no volante. Nível de descontrole: arranhei a quarta na saída de uma curva.
More Human Than Human - White Zombie: Ainda perfeitamente administrável. Descobri duas coisas nesse ponto: 1) consigo fazer curvas dentro do traçado a 90km/h e 2) acima dessa velocidade a porta do passageiro do Medonho só fecha soldando. Nível de descontrole: certa dificuldade em apanhar a lata de cerveja do meio das pernas.
Drinking & Driving - Black Flag: O proprietário da horta ao lado da pista passou a questionar minha afirmação anterior. Talvez com alguma razão. Nível de descontrole: certa dificuldade em descolar folhas de repolho do pára-brisa usando apenas o limpador.
Fire On The Moon - Bellrays: Tremores faciais involuntários. Suor. Olhos vidrados. Mãos e volantes formando uma coisa só. Isto é, uma mão e o volante - outra mão e o controle de volume do Roadstar. Nível de descontrole: já não dá pra trocar uma idéia com o Viggo Mortensen sentado ao lado.
Who Was In My Room Last Night? - Butthole Surfers: Descubro que posso distinguir o formato das reentrâncias no pedal do acelerador, através do solado do coturno e... ei, elas parecem formar uma espécie de mensagem: V-O-C-Ê-J-Á-E-R-A-M-E-R-M-Ã-O-A-S-S-M-A-R-I-Ã-O. Hm. Interessante. Nível de descontrole: não páro de pensar que ainda preciso arrumar os ingressos para o Kill Bill.
Disengage the Simulator - CKY: Sinto saudades de quando era criança. Não sei exatamente por que. Talvez porque minha vida inteirinha esteja nesse momento sendo projetada no pára-brisa. Começo a notar um certo padrão de comportamento estúpido aqui. Outra coisa que sinto falta: curvas: O velocímetro marca 130 e não faço uma a pelo menos vinte minutos. Se eu consegui entender direito o que estava naquela placa, a saída para Ponta Grossa vai surgir nos próximos 4 km. Estranho. Nível de descontrole: olho para o retrovisor e o Jack Nicholson me devolve o sorriso. Peço um autógrafo.
Jesus Built My Hotrod - Ministry: Revelações, muitas. Certezas, várias. Praticamente me encontro agora numa espécie de útero de luz, confortável, silencioso e quentinho. Me desprenderia do cinto de segurança, caso tivesse feito uso de tal, e flutuaria em direção a origem de toda aquela calma e sabedoria. Isso, claro, se não estivesse nesse momento me debatendo contra os para-médicos que insistem em me amarrar a uma maca e enfiar uma máscara de oxigênio na minha cara. Nível de descontrole: desconfio que será preciso uma intervenção cirúrgica para soltar meus dedos do volume do Roadstar.
Apelo à razão
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Meu caro sr. Black Francis:
E aí, como vai? Tudo certinho? Legal. Folgo em sabê-lo. Seguinte: já andaram reclamando desses meus posts longos então tentarei ser o mais breve possível: acabei de voltar do banco onde paguei a módica quantia de CENTO E DEZOITO REAIS pela minha estupidez, digo, pelo meu "passaporte" para os dois dias do CPF, evento esse onde pretendo assistí-lo e à sua banda de apoio, o Catholics. Pois bem. Tendo em vista que a partir de agora já somos quase velhos amigos (não, não pelos CENTO E DEZOITO REAIS que paguei pelo achaque, digo, "passaporte" mas é que eu sempre fui meio folgado mesmo) resolvi que seria uma boa idéia listar para v.sa. algumas sugestões e, também, tentar antecipar outras situações que podem muito bem acontecer num espetáculo dessa magnitude, desse porte, desse valor de CENTO E DEZOITO REAIS, enfim:
- Não posso precisar exatamente em que momento de sua apresentação isso vai ocorrer, mas o fato é que eu e o meu amigo Theo descolamos uma colheitadeira para abrir caminho do nosso lugarzinho no apartheid até a beira do palco. Portanto mantenha-se perto da bateria, a maior parte do tempo. simplesmente não conseguimos descobrir onde é o freio daquela porra.
- Um outro amigo nosso (quieto, introspectivo, um pouco esquisito) tem andado mais estranho que o habitual por esses dias. Alguns dizem que o motivo foi o fato dele não dispor dos CENTO E DEZOITO REAIS para o pagamento da extorsão, digo, "passaporte" para o show, e outros dizem que é pura frescura, etc. Boatos dão conta de que ele passou a fazer exercícios respiratórios, yoga, acupuntura, drenagens linfáticas e palavras cruzadas. Já vimos ele cuidando de um jardim chinês. Também já foi encontrado um recibo de compra de um bicho-preguiça e de um aquário na jaqueta dele. Parece que ele também vai participar da próxima sagração da lua de uma dessas seitas modernas aí. Mas o que me chamou mesmo a atenção foi o rifle de repetição com mira telescópica que ele tinha no porta-malas do carro, semana passada. Sabe duma coisa? Pode ser paranóia minha... mas eu, do alto daquele palco, tomaria o cuidado de dar uma boa olhada em volta antes de começar a tocar.
- Diz uma coisa: por acaso você conhece alguém do Milli Vanilli? Não? E do Technotronic? Pode ser também do Wet, Wet, Wet ou do Wham!, ou do Erasure ou mesmo do Culture Club, sei lá. Sabe o que é: seria o máximo se, depois desse show, os únicos "retornos ao rock’n’roll" em Curitiba se resumissem a essas bandas. Só pra tirar um sarrinho de quem não irá ao CPF, sabe como é, coisinha inocente e tal... Ah, seguindo essa lógica, fique bem longe dos Smiths, cazzo!
- Dá pra pedir só mais uma coisinha? Aliás, duas: 1) tocar "Jerk" do seu primeiro disco solo e 2) não usar camisa de flanela quadriculada? Hm. Ok, eu troco o item 2 por: lá pelas tantas você cruzar os dois braços na altura do peito com as mãos fazendo chifrinhos e dizer "hey, Melinda Rowles, this is ONLY for you:" e em seguida fazer o mais longo solo de air guitar de que já se teve notícia na história recente da humanidade? Pelo menos prometa que vai pensar no assunto.
Qualquer dúvida entre em contato.
Um abraço,
Aitel.
Crash
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Atenção bando de imprestáveis, consumidores de tosqueiras, barulhos indecifráveis e sujeira em geral (como eu): a lista abaixo é apenas um aperitivo. A idéia é formar um set list cujo potencial de auto-destruição automobilística chegue perto de ser intervencionada pela ONU. É botar no player do carro e capotar após 50 metros, incontrolavelmente. Mandem as sugestões. Mas há regras: para cada emissário do capeta deverá haver um querubim fofinho. Ou seja: para cada indicação de seu barulho preferido deverá existir uma confissão AM easy listening. Sei lá, se virem. Se até eu gosto de uma música do Double vocês também devem ter um esqueleto no armário.
Categorias:
"Essa viagem é realmente necessária?"
- Jesus Built My Hotrod - Ministry
- Spieluhr - Rammstein
- Bomber - Motörhead
"Um dia desses, com fé, a gente chega lá"
- You're The Best Thing - Style Council
- Cattle and Cane - Go-Betweens
- Still on Fire - Aztec Camera
E cada coisa em seu lugar
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Coisas que já fiz:
Eu já me escondi atrás de um poste. Para não cumprimentar um sujeito desagradável. E girei miudinho ao redor dele até o fulano desaparecer rua abaixo.
Já embriaguei uma formiga. Juro. Fazendo caipirinha. A dita se aproximou de uma gota na pia, atraída pelo açúcar, e saiu lentamente em direção ao ralo. Foi a única crítica a um drinque meu que levei realmente a sério.
Já fiquei preso num elevador. Na Biblioteca Pública. Por quase 40 minutos. Apertei todos os botões daquela porra e sentei num canto, envergonhado demais para berrar por ajuda. Quando a porta abriu encarei o técnico, que fazia algum tipo de manutenção do lado de fora – o tempo todo a cerca de um metro e meio de onde eu estava.
Também já empurrei um sujeito numa cadeira de rodas para dentro de uma valeta. Sim. Era véspera de ano novo e eu estava bêbado. O sujeito também. Era um amigo que havia se estropiado de moto e eu o ajudava a vencer o meio-fio, no litoral. O gosto teria sido bem mais doce se eu não tivesse caído junto, digamos assim, na camaradagem etílica.
Já fiz uma poesia para uma garota. Por volta dos meus 12 anos. Enfiei-a dentro de um envelope caprichado, junto com algumas folhas secas e pedi para um conhecido em comum entregar para ela. Santa inocência. O diabo da declaração jamais chegou ao seu destino: foi parar no mural da escola e o pior é que o nome dela era citado. E eu, é claro, tinha assinado. Quase virei punk ali mesmo. Mas antes, vergonha. Muita vergonha.
Uma coisa que guardo em casa, só para causar inveja no Zé Carlos:
O primeiro disco, em vinil, do Dexy’s Midnight Runners: Searching for the Young Soul Rebels. Comprei naquela loja que ele tinha no Shopping 7. Tão barato que pensei que o preço na etiqueta era pra gravá-lo, não adquirí-lo. No dia seguinte fiquei sabendo que ele havia me procurado pelo circuito todo – queria comprar o disco de volta. Isso foi há dez anos. De lá pra cá, pelo menos uma vez por ano ele me faz uma oferta. Eu ouço, fico um pouco em silêncio e respondo que vou pensar. Sempre. O gosto é doce.
Coisas que guardo em casa, mas que sempre nego a existência:
- Um K7 importado do Brian Eno (Apollo) que roubei de um bar chamado Poeta Maldito, em 91.
- A ficha de consumação 001 de 04.11.98, do James, provando que fui o primeiro cliente daquela birosca.
- Uma foto autografada do Jerry Lewis.
- Todos os exemplares do Trendie onde escrevi alguma porcaria. (Acho que nem o Tupan se deu ao trabalho de guardar isso.)
- Um cinzeiro do Voltz. O único que apareceu por lá em anos. Foi uma disputa sangrenta.
- Eu confesso. Comprei uma fronha com o Morrissey estampado ao lado da frase "last night I dream’t that somebody loved me". Eu sei, eu sei. É terrível. Mas quase todo mundo comprou isso naquele show. (Certo, Rafael?)
- Um cubo mágico esquecido no fundo da gaveta de meias. Não posso me furtar a manter intacto uma tradição do final dos 80.
- Chaves. Milhares delas. Dentro de um engradado de madeira em minha oficina na garagem. Guardo cada uma que encontro desde a infância. Penso em pavimentar uma calçada com elas. Derretê-las e fazer uma âncora. Soldá-las em forma de abajur. Costurar uma cota de malha e... ok, ok. Você tem razão. Vou jogá-las fora amanhã.
Uma coisa que não entendi, recentemente:
Essa última propaganda da Pepsi, com a Britney Spears, Beyoncé e Pink vestidas de gladiadoras num coliseu e gritando "we will rock you". E aí? Qual o motivo daquilo tudo? Cadê a mensagem subliminar? Acho que algo se perdeu na tradução. Ou, sei lá, não consumo Pepsi o suficiente para compreender certos mecanismos publicitários.
Uma coisa que me intriga, até hoje:
Tá legal. Já se passou tempo suficiente desde a estréia. Dá pra alguém agora me explicar o motivo da existência daquela maldita galinha em O Homem Que Copiava?
Um lugar pra cada coisa
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Nas notas de hoje da Gazeta:
" As Valquírias, de Wagner, é a música mais perigosa para quem dirige, segundo a fundação britânica RAC, que promove campanhas sobre assuntos relacionados a automóveis. Ao alertar sobre uma pesquisa que diz que músicas barulhentas podem causar acidentes, a fundação divulgou a relação das músicas que acalmam. Come Away With Me, de Norah Jones, encabeça a lista".
Antes que você me pergunte, Marcio: não. Não era Wagner que escutava no momento daquele maravilhoso capotamento. Era Medulla Oblongata da trilha do Clube da Luta.
Acredite em mim: você vai precisar de uma dose, depois
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Mesmo que eu morra aos 100 anos, três vezes isso não me daria a dimensão do que você sente ao martelar o seu dedo. Você pode tentar me explicar de todas as formas, pacientemente, em todas as línguas, desenhar gráficos, fazer comparações, analogias, me mostrar filminhos. Não vai adiantar.
Não há como mensurar o que uma outra pessoa sente. O espécime humano e seu estupendo senso auto-preservativo só pode esboçar o que acha que um outro sente a partir de sua própria experiência - e a ausência disso quase sempre revela um quadro de sociopatia. Pois bem. Eu nunca fui estuprado. Nunca sofri nenhum tipo de abuso seja lá de qual ordem, mas ontem, assistindo Irreversível (do argentino Gaspar Noé), acho que cheguei muito perto de ter uma idéia clara do que uma mulher sente ao passar por esse inferno.
Noé ombreia com Von Trier e Patrice Chéreau quando o assunto é um tipo bem específico de cinema: aquele que é calculado até o último centímetro de fotograma para chocar, causar reações, enfiar um cabresto no espectador e conduzi-lo aos trancos filme abaixo. O que é algo que me irrita um pouco. Porque quase sempre caio na armadilha (saí do cinema com o joelho amortecido pelos meus próprios murros, quando vi Dogville), apesar de meus olhos já estarem calejados em distinguir esses truques de linguagem mesmo antes de alguns aparecerem na tela. Roteiro deslindado de trás pra frente, câmera desorientada e desfocada, trilha opressiva, todos esses artificialismos que já torraram a paciência estão lá. E apesar de todo esse lugar-comum você acaba se surpreendendo.
A busca pelo estuprador pelos corredores da boate Rectum é arrepiante, não dá pra ficar indiferente. 8MM é um passeio pelo Eurodisney, comparando. E os quase dez minutos sem cortes da cena de estupro compõem uma das sequências mais ultrajantes da história do cinema - porém necessária. Noé não acredita no bom selvagem de Rosseau. Sua idéia é mostrar o ser humano como uma besta revestida de sociabilidade. Exageros à parte, o filme tem a seu favor um mérito inquestionável - ainda que utópico: é bem capaz de fazer com que um imbecil desses pense duas vezes antes de querer fazer algo similar. Ou - antes - assim espero.
Eu, robô
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Dois técnicos fazem os ajustes finais no modelo 260672aitel0.1 a sua frente, antes de largarem-no ao mundo. O primeiro diz:
- Unidade maizomeninha essa, hein? Essa fábrica já prestou.
- Pois é. Esses projetistas novos não sabem o que querem. Ora desperdiçam material, ora economizam onde não devem.
- E a programação? Já viu a programação desse traste aqui?
- Não.
- Dá uma olhada: "Circunspecção estritamente dirigida, desapego a tudo que não esteja sob o domínio dos sentidos, disposição de ânimo nos dois extremos, inclinação a desenvolver conceitos desmedidos e exagerados, propensão ao descuido e/ou imprudência e neurastenia leve".
- Que maravilha. Trocando em miúdos: um metódico cabeça-dura com mau humor impenetrável, bom humor esquisito - e que além de ser um pouco paranóico também é avoado e rabugento. Que beleza. Com sorte vai se arranjar como artista de circo.
- Ou virar assistente social.
- Por Judas. Dá só uma olhadinha nisso aqui.
Ambos se inclinam sobre a última linha de programação e emudecem. O primeiro balança a cabeça lentamente enquanto o segundo murmura, condoído:
- Timidez e falta de timing...
- Malditos programadores sádicos.
Programado para matar
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Sim, meus caros, foi um verdadeiro massacre. Quase tão grande quanto aquele que estão prometendo ao meu couro - caso não revele logo o vencedor do embate entre os candidatos selecionados a passar a eternidade ao lado da Jennifer Garner. Estava tudo indo mais ou menos na média, até a Eve desenterrar dos sete infernos um verdadeiro exemplo de como desperdiçar oxigênio em nosso planeta: Antonio Sabato Jr., o Michael Biehn italiano. Sim. Esse verdadeiro Mark Dacascos dos atores, esse Val Kilmer dos bípedes, esse Mario Van Peebles carcamano, esse... esse... confiram o score da nulidade:
(Filmes lançados no Brasil. Existem trocentas outras participações desse asno na TV italiana, em minisséries - lembram de Melrose? - e outras ecas)
- Enganchados (Sim. Esse é o nome)
- A Base 2
- Alta Voltagem
- Codinome: Wolverine
- Ato Imoral
- Ambição Assassina
- Projeto Éden - Um Futuro Desconhecido
- Justiça Para Um Inocente (Ele, provavelmente)
- Descida Final (Me recuso a acreditar que tenha sido a última vez)
- Pânico no Mar
- Rally Aéreo
- Conexão Terrorista
- O Dom - Duelo Paranormal
- Arizona Violenta
- Passado Criminoso
- Desafiando a Morte
e...
Chega, né? Já deu pra ter uma idéia da catástrofe. Já confirmei: todos os títulos estão disponíveis na seção de lançamentos de uma locadora no interior de São Sebastião da Óstia, MG. Qualquer coisa, dou o telefone. E é isso, garotas. A Motosserra agradece vossa prestimosa participação em mais uma tentativa coletiva de transformar esse nosso mundo num lugar mais justo, reto, correto, bonito e pimpão. Até a próxima e nunca se esqueçam das sábias palavras de conforto ditas por um grande amigo meu cujo nome agora me escapa: "Eu morro de pena, mas na verdade nem ligo".
P.s.: Melinda, mil perdões. A cada vez que você mencionou Luke Perry, meus neurônios registraram Matthew Perry. Mas não esquente. Meu fornecedor habitual do remédio tarja preta que tomo diariamente pro célebro teve que fugir do país, mas já consegui um outro que prometeu me fazer um preço quase parecido, assim que ele conseguir um endereço fixo.
Olá, doppelgänger
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Olá, Aitel.
E aí, como vai? Aqui quem escreve é o seu duplo-eu, seu alter ego, distante de você em cerca de 10 elevado a 10 elevado a 28 metros. Isso é isso mesmo: uma distância tão filha da puta de grande que está além das medidas astronômicas conhecidas - o que não a torna uma impossibilidade, absolutamente.
Simplesmente o que sabemos até agora é que existe um espaço infinitamente grande (ou suficientemente grande) entre eu e você, e todo ele preenchido por uma matéria desconhecida uniformemente distribuída. Por mais fantasioso que pareça, estudos sérios a respeito indicam evidências da existência de não só um, mas infinitos outros planetas habitados iguaizinhos ao meu e ao seu, onde vivem outros "Aitels" exatamente iguais no nome e nas lembranças, alguns prestes a nascer e outros que já esgotaram todas as possíveis combinações de escolhas de suas vidas. Formando uma miríade ininterrupta de eventos correlacionados entre nós – e que de forma alguma causa interferência na minha ou na sua existência. Legal, não?
Num exemplo grosseiro, funciona mais ou menos assim: eu estou aqui escrevendo isso e você aí do seu lado pode estar fazendo exatamente a mesma coisa, mas com a diferença que um dos dois talvez pare no meio do caminho – e o outro continue – sem que isso cause qualquer efeito no continuum da coisa toda. Pois bem. Provavelmente jamais nos veremos, uma vez que o lugar mais distante que podemos observar atualmente é o ponto de luz onde começou a expansão do Big Bang, 14 bilhões de anos passado adentro. Chamamos isso de Volume de Hubble, Volume de Horizonte ou, simplesmente, nosso Universo.
O que indica que estamos evoluindo nessa área específica da Física Quântica é a constatação de uma evidência cada vez mais forte de que esse nosso Universo é simplesmente uma parte de um Multiverso maior. Mas, mesmo que jamais possamos trocar um aperto de mãos, ainda existe uma chance de distinguirmos elementos do seu mundo, e vice-versa. Para isso precisaremos antes dominar a tecnologia necessária para capturar uma das extremidades de um worm hole por exemplo, que é uma espécie de atalho espaço-temporal cuja existência é igualmente aceita mas jamais vista. Foi pensando nessa possibilidade de vislumbre que resolvi listar algumas dicas relacionadas a eventos de minha/nossa vida que julguei importante ser de seu conhecimento prévio, na hipótese de você ainda não ter passado por nenhum deles:
- No dia 22.06.01, por volta das dez da manhã, tire o pé do acelerador quando o velocímetro atingir 110km/h. Isso fará com que você perceba bem a tempo a curva em cotovelo à sua frente - fazendo com que o capotamento a quase 140km/h jamais aconteça.
- Numa manhã tremendamente fria de março de 90, diga ao sargento que vocifera em suas fuças a seguinte frase: "Senhor, sim senhor." Apenas isso. E não: "Senhor, pelo que eu percebo, sargento deve ganhar muito mais", quando ele disser "Soldo? Aqui soldado só ganha isso!" mostrando o volume com as mãos. E, na hipótese disso jamais ocorrer, mesmo assim descreva o evento num blog. E retorne três anos depois para creditá-lo ao seu legítimo dono.
- Falando nisso, responda negativamente quando lhe perguntarem se você sabe bater à máquina. Não é sobre datilografia que eles estarão se referindo e isso evitará que você passe três semanas cortando a grama do pátio da infantaria.
- Numa noite fria de meados de 93, controle sua irritação e aguarde junto com seus amigos por mais 20 minutos, após ter visto o Die Haut no Ópera de Arame. Agindo assim você trocará um aperto de mãos com Nick Cave.
- Os vinis jamais serão substituídos pelos CDs, em sua totalidade. Da mesma forma que o preço desse último não irá recuar, como alardearão em seu lançamento. Portanto não passe a tratar a sua coleção como algo descartável como eu idiotamente fiz.
- Numa determinada noite de agosto de 94, num lugar chamado Dromedário, recuse polidamente o convite para tomar mais uma cerveja vindo da garota mais bonita do bar. Pode parecer estranho, mas isso praticamente limará da história grande parte do que aconteceu de desagradável nos sete anos que estão por vir a partir dali.
- Todos os ídolos de sua adolescência irão te decepcionar, inquestionavelmente. E sair por aí envergando suas respectivas camisetas não irá refrear o processo.
- Aliás, camisetas de bandas não são piéce de resisténce como você começará a achar após os 25 anos.
- Ainda no brioso Vigésimo Batalhão de Infantaria Blindada do Estado do Paraná: você tomará seu primeiro e avassalador porre alcoólico que criará um curioso dispositivo de defesa automática em seu organismo: toda vez que você vir um copo de vinho seus dedos dos pés encolherão, por puro pânico.
- Guarde bem essas palavras: "Agradeço muito sua preocupação quanto ao meu atual meio de locomoção – e posso lhe garantir que é justamente o que vou fazer tão logo sua mãe melhore das pernas". Isso vai cair como uma luva quando alguém lhe disser "vá pro diabo que o carregue". Ainda não usei.
- Guarde bem esses números: 05, 11, 31, 38, 47 e 53. Esse é o resultado do concurso 281 da Mega Sena ultra-acumulada de julho de 2001.
- Por volta do finalzinho de 86, não fique sentado em frente ao cine Astor esperando a bilheteria abrir para ser o primeiro a comprar o ingresso do filme Labirinto. Tal atitude preservará longe dos trombadinhas da Osório o Omega que você irá ganhar de seu/nosso avô alguns meses antes. Ah, e o filme não vale a pena.
- O filme que você mais assistirá em sua vida (pelo menos até meus atuais 31 anos) será O Fundo do Coração, do Coppola. Você estabelecerá uma ligação quase metafísica com ele - e tudo começará a partir de um convite feito por uma garota que no final das contas não irá aparecer no cinema. Sua obsessão por ele e pela subsequente trilha o levará a correr atrás de tudo que for possível acerca de um desgraçado chamado Tom Waits, e essa será a base para quase tudo que você verá/ouvirá durante anos. Fodeu-se, mané. Se tivesse desenvolvido um gosto por lambada ou pagode tudo seria muito mais fácil.
E o mais importante:
- Suas asas invisíveis não vão funcionar em algum dia de julho de 80. Eu tenho as cicatrizes para provar.
Abraços,
Aitel.
Regras da atração
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Em conversa recente com a personificação dos sonhos de Guido Crepax, domingo, corroborei uma tese, assim, não tão original mas que defendo a algum tempo: comparando homens e mulheres, num determinado nível, nós sempre teremos muito mais facilidade em afirmar que louvamos uma determinada atriz simplesmente porque a dita cuja é uma tremenda de uma gostosa - e só.
Não importando o quão porta ela seja, esquecendo atributos razoáveis como boa interpretação, participação (nem que seja por um mísero segundo) em filmes bacanas ou idéias próprias interessantes. O lance aqui é a mais venal e bestial apreciação da carne pela carne, mesmo. Por exemplo: salivo pela Jennifer Garner (que faz a série "Alias" e foi a Electra no "Demolidor"), uma maravilha natural insuportavelmente ruim como atriz e que até agora não fez absolutamente nada que preste.
Partindo do princípio que em nossa conversa não se conseguiu arranjar um correspondente masculino no mesmo nível da minha deusa acéfala, fica o desafio: para vocês, mulheres, qual o estrupício em forma de ator que só lhes agrada pela fuselagem e nada mais, uma vez que o sujeito tem o poder interpretativo de um lêmure decapitado? Lembrem-se, garotas, estamos falando de cinema e o indivíduo (a exemplo da Jennifer Garner) deve estar invicto em sua total incapacidade frente a uma câmera. Inépcia e genes campeões. Vamos lá, ladies. Surpreendam-me.